terça-feira, 16 de agosto de 2011

Uma Música Brutal - Segundo Capítulo (parte 2)

- Um ano... – eu repeti para mim mesma. Um ano de expectativas, um ano de convívio e fazia menos de três meses que eu havia conhecido o verdadeiro Victor. Aquele Victor que sua beleza e sua simpatia do princípio deixaram escondido durante tanto tempo.
- Coloque! – ele mandou. Eu por um momento continuei perdida em meus pensamentos, parecia estar em outro mundo com tantas lembranças boas e mais ainda com lembranças ruins. Ele então pegou a aliança e colocou no meu dedo. – Isto sela nossa união!
- Victor... eu... – eu pensei em falar, em tentar conversar com ele já que o assunto naquele momento era nosso namoro. Mas Victor fez um “shiii”, colocando dedos em minha boca e dizendo:
- Não estraga este momento, querida! Pode ir agora... ou vai se atrasar. – ele falou ligando o carro. Eu desci e o fitei enquanto ele seguia em frente.
- Ele sempre segue em frente! – eu pensei quase em voz alta. Balancei a cabeça em forma de reprovação, depois entrei para a aula lembrando de uma conversa que tive com Carlos, conversa na qual ele repetiu várias vezes uma mesma frase, talvez na intenção de anexá-la em minha cabeça: “Quem bate nunca lembra, mas quem apanha nunca esquece!”. Pensei comigo: talvez fosse por isso que Victor sempre seguia em frente...
Tirei o final de semana para relaxar, uma espécie de férias das chatices do Victor. Coloquei os estudos em dia e aproveitei para sair com algumas amigas. O início da semana foi a mesma tranqüilidade: faculdade, ensaio e casa; sem perturbação alguma - Aliás, uma coisa que já estava começando a me agradar: sossego!
Victor retornou todo carinhoso, parecia outra pessoa. Cheguei a me questionar o que teria acontecido nesta viajem que o fez mudar da água pro vinho sem nenhum motivo aparente. Nos encontramos num restaurante, depois fomos para um hotel diferente, todo temático; ele parecia estar se esforçando muito na tentativa de me agradar e, no fundo, estava funcionando. O fim de noite foi delicioso, ganhei presentes de um sex shop, uma cesta com vários acessórios: joguinhos eróticos com dados e cartas, óleos de massagem, lubrificantes, uma toalha vermelha , lingerie também vermelha, uma meia 7/8, entre outras coisinhas mais. A única coisa que não me agradou dentro da cesta foi uma espécie de chibata com ponta de couro. Victor percebeu meu descontentamento quando vi a chibata dentro da cesta. Ela afastou suavemente os cabelos que cobriam meu rosto, chegou bem pertinho e disse no meu ouvido:

Uma Música Brutal - Segundo Capítulo (parte 1)

Fomos o caminho todo sem trocar uma palavrinha sequer um com o outro. Victor vez ou outra passava a mão no meu rosto fazendo carinho, pegava minha mão e beijava, enfim, tentava ser carinhoso. Parou o carro a poucos metros da entrada da faculdade, pegou minha mão mais uma vez e a beijou. Acariciou meu rosto e depois me puxou para perto dele a fim de me dar um beijo.
- Hoje meu dia vai ser corrido, tenho reunião daqui a pouco e à tarde tenho algumas coisas pra resolver. Nos falamos à noite, tudo bem?! – ele perguntou, fiz que sim com a cabeça, dei tchau e fui pra aula.
Enquanto assistia à aula eu não tirava os olhos do relógio. Minha cabeça doía mais que tudo, eu não conseguia acompanhar nada do que o professor falava. Algumas de minhas amigas vez ou outra me cutucavam fazendo-me despertar de um cochilo. Outras me perguntavam se estava tudo bem comigo, pois minha aparência não estava muito boa naquela manhã. O professor também me chamava à atenção pedindo para que eu prestasse atenção nas explicações, pois eram importantíssimas e continuação para a próxima matéria que ele daria mais tarde. Pressionada pelas lembranças da noite mal dormida, pelas especulações de minhas amigas e pela voz do professor que agora entrava embaçada por meus ouvidos, acabei pedindo licença ao professor dizendo que não estava muito bem e que gostaria de ir pra casa. Ele falou que tudo bem, de qualquer forma não poderia me prender na sala mesmo, mas pediu que eu tentasse recuperar a matéria pegando anotações com alguma amiga. Eu concordei sem nem prestar atenção, queria mesmo era ir embora.
O caminho para casa foi rápido, mas o banho de mais de uma hora que tomei quando cheguei me deu tempo o suficiente para pensar em tudo o que vinha acontecendo no meu relacionamento com Victor. Ao final de tudo o que relevei cheguei à conclusão de que não poderia mais continuar vivendo aquilo. Não podia ficar com uma pessoa que não conseguia controlar seus instintos nem sua personalidade conturbada. Mesmo com todos estes pensamentos me atormentando, eu ainda não estava completamente decidida a dar fim ao meu namoro, meu pensamento era de no máximo tentar conversar novamente com Victor e exigir que ele parasse de me tratar daquele jeito ameaçando-o de deixá-lo caso ele não mudasse. Deitei no sofá, liguei a televisão e, mesmo em meio a tantos pensamentos, acabei pegando em sono profundo.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Uma Música Brutal - Primeiro Capítulo (parte 2)

- Por favor, desata os nós, Victor! Minhas mãos estão ficando dormentes!
- Eu não me preocuparia com isto! – ele falou segurando um cinto, fazendo um movimento que ele sempre repetia quando estava prestes a me agredir. Eu, desesperada, comecei a pedir para ele que não fizesse nada. – Mas o que está pensando que vou fazer, meu bem?! Porque tanto medo?! – ele falava, debochando.
- Eu conheço esse cinto! Você sempre usa ele! Você vai me machucar! – eu falava baixinho.
- Você tem razão, eu vou te machucar! – ele falou se aproximando e fazendo barulho com o cinto. Depois, chegando pertinho me falou ao ouvido: - Eu vou te machucar, mas prometo que não vai doer!

- Vai, vai doer sim... – eu tentei argumentar algo, mas ele tapou minha boca com uma de suas mãos e com a outra, esticou o cinto e me acertou pela primeira vez, arrancando de mim um urgido sufocado. Ele retirou a mão da minha boca, mexeu novamente no cinto, repetindo aquele barulho atormentador por várias vezes. Depois parou na minha frente e colocou o dedo na boca emitindo um “shiiiihh!” ao mesmo tempo em que arremessou com toda a força a ponta do cinto contra minhas costas. A dor foi eminente e eu, instintivamente, soltei um berro que ecoou pela casa inteira. Na mesma hora Victor virou meu rosto, soltou o cinto, e com a outra mão me acertou um forte tapa na boca. Senti meus lábios queimarem de dor, fiquei com tanta raiva na hora que sem pensar duas vezes soltei um cuspe na cara dele, que limpou sorrindo.


sábado, 6 de agosto de 2011

Uma Música Brutal - Primeiro Capítulo (parte 1)

Ele sempre começava dizendo: “Prometo que não vai doer!”, mas no fim era sempre a mesma coisa. O homem carinhoso por quem eu havia me apaixonado a princípio não era mais o mesmo havia muito tempo. Não importava lugar ou horário, ou até mesmo quem estivesse por perto; as humilhações e torturas por algum motivo ou momento raivoso da parte dele já repetia, pelas minhas contas, por mais de quatro vezes. Já havia tentado me libertar antes, mas, não sei se por medo ou por ainda gostar muito dele, eu não conseguia ficar longe por muito tempo. Mas aquela última noite havia sido a gota d’água para mim.
Era um dia como outro qualquer, meio de semana ainda, e ele inventou de ir a uma festa que um amigo em comum nosso havia nos convidado. Ele sabia que eu não gostava de festas no meio da semana: primeiro porque eu tinha um grupo de danças e costumávamos ensaiar ou treinar todas as noites; segundo porque no outro dia tinha que acordar cedo para ir até a faculdade.
Naquele dia pela manhã Victor (meu namorado) me ligou para combinarmos de irmos a tal festa, mas com muito custo consegui convencê-lo de que não seria uma boa ir à festa, pois estaria muito cansada. Falei que alugaria um filme e, depois do meu ensaio com o grupo ele passaria para me buscar e iríamos assistir ao filme juntos na minha casa. Ele aceitou numa boa, para a minha surpresa já que nos últimos meses ele estava se demonstrando um verdadeiro idiota incompreensível.


Como combinado, depois da faculdade passei na locadora e peguei o filme que ele havia escolhido. Organizei tudo em casa, tomei um banho e fui para o treino/ensaio do meu grupo de dança. Neste meu grupo só havia eu e uma amiga minha como presença feminina, o resto era tudo homem (garotões, na verdade), e isto às vezes deixava meu namorado bem incomodado. Naquela noite havia um passo novo a ensaiar e, como havia sido um de nossos amigos quem o havia criado, este ficou incumbido de passar o passo para os outros integrantes do grupo. Ensaiávamos de quatro em quatro para ficar mais fácil a compreensão do passo, já que era um estilo de dança bem difícil. Neste dia ensaiamos eu, minha amiga, mais um amigo e o criador do novo passo. Estávamos bem à vontade e eu mais ainda, um tanto feliz por não ter brigado com Victor naquele dia (o que era raro nos últimos tempos). Com a empolgação não percebi quando Victor chegou. Ele se sentou em um lugar onde eu não pude vê-lo e ficou ali, me observando, até que o treino chegasse ao fim. Quando terminei de me arrumar foi um de meus amigos que me chamou e avisou que Victor esteve por lá me assistindo, mas que havia saído poucos segundos antes do treino acabar. Fiquei confusa, pois o combinado era ele me esperar lá mesmo. Enquanto o pessoal conversava, eu me arrumei e saí do treino tentando ver se achava Victor pelo caminho, mas não precisei andar muito, ele estava me esperando no corredor do salão.