segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Estranha Sedução (Continuação 4)



Três semanas se passaram desde aquele dia. Com o projeto de Letícia em andamento, ela e a amiga estavam sempre juntas e sempre ocupadas. Vez ou outra Cauã tentava falar com Letícia, mas ela só atendia o telefone com pressa, não se prolongava nos assuntos e nunca aceitava um convite para sair. Leila, que não era tão interessante assim quanto a amiga, sempre achava um absurdo ver a amiga rejeitando tais convites.
- Eu custo a te entender, Lê! Um cara lindo desse, visivelmente caidinho por você, e você nem conversa com ele direito, já atende falando que vai desligar. O que você tem, afinal? O problema ainda é Arthur?! – Leila perguntava surpresa com a atitude da amiga.
- Não é isso, Leila! É que não estamos tendo tempo pra nada e olha que nosso projeto mal começou! Não posso me distrair com outras coisas! – ela respondia.
- Seu projeto! Eu só estou ajudando! – Leila retrucou.
- Já pedi pra você parar com isso, Leila! O projeto é nosso, nós estamos desenvolvendo, e muito bem por sinal! Eu não teria saído do lugar se não fosse você do meu lado! – Letícia respondeu chateada com a contestação da amiga. Leila vinha agindo diferente nos últimos dias, Letícia não fazia a mínima idéia do porque da amiga estar daquela forma com ela, na verdade nem questionava tanto as atitudes dela, porém não podia deixar que a amizade se transformasse numa rixa sem fim. – Sabe, de uns tempos pra cá parece que não estamos nos entendendo tão bem assim. Não sei o que está acontecendo com você, Leila, mas sabe que pode contar comigo pra tudo! Sempre fomos unidas, não queria que isso mudasse! Se estiver com algum problema, se estiver chateada com algo, você tem que me falar pra gente poder resolver! Eu não sou adivinha, não vou saber se você não me contar. E então, Leila, você quer conversar?


- Desculpa, Lê! Eu não quero que você fique pensando assim. Estou chateada com algumas coisas, mas não tem nada a ver com você. Sabe, o projeto é tanto meu quanto seu, mas parece que as pessoas só dão o crédito a você. Eu não entendo, estou me esforçando tanto quanto você. Eu também mereço isso, não mereço? Não, não responde! Eu acho que o problema sou eu mesmo, eu é que estou com essas coisas na cabeça. Me perdoa, amiga, eu não quis falar essas coisas! Esquece vai! Vamos nos concentrar aqui no projeto! – Leila falou se voltando para as pautas e pendências que as duas estavam resolvendo sobre o trabalho de ambas. Letícia continuou olhando para ela, não estava entendendo o porquê daquela crise. Seria ciúmes dela ou só uma atitude mesquinha?! Letícia não estava entendendo de verdade. Primeiro porque ninguém nunca deu mais crédito pra uma do que pra outra. As duas sempre estavam juntas, não havia o porquê daquele separatismo entre elas.
- Sabe, Leila, eu acho que é você quem está precisando sair um pouco! – ela falou sorrindo e fazendo cócegas na amiga. – Você precisa urgentemente! Está muito centrada no nosso trabalho, até mais que eu que costumo ser a “viciada” daqui! (Leila sorriu) Eu tenho uma idéia!
- Ah não! Lá vem você com suas idéias malucas! Nem vem que não tem, Lê! – ela falava se esquivando de Letícia.
- Imagina, minhas idéias malucas? Nunca! Ah vai, só um encontrozinho! Não vai te fazer mal algum, muito pelo contrário!
- Tá certo, digamos que eu aceite sair... quem vai comigo? Você? Sim, porque eu não estou namorando nem nada, muito menos recebendo telefonemas de pretendentes assim como você e... – ela falava quando o olhar de Letícia a fez calar na mesma hora. – Tá bom, agora me fala, porque sei que quando seus olhos brilham deste jeito é porque está aprontando alguma!
- Eu??? Imagina, querida!!! Nada não, só estava pensando numa coisa!
- Desembucha logo, Lê! Eu sei que essa sua cabecinha ta bolando alguma maldade!
- Maldade nada! Bondade, isso sim! Eu já sei quem vai ser seu acompanhante!
- Eu sabia! Tá, fala logo, estou ouvindo! Mas preste atenção, estou só ouvindo! Não quer dizer que eu vá concordar e...
- O Cauã!
- Quem?
- Isso mesmo que você ouviu, o Cauã!
- Você ta delirando ou algo parecido? Não vou sair com seu pretendente! O Cauã é totalmente caído por você, o que vou fazer com ele num encontro?
- Não, Leila, você está enganada! O Cauã é só um amigo, hum... como posso dizer... nós temos uma amizade colorida, é isso! O que não significa que estejamos namorando ou ficando! Ele não é um pretendente, é só alguém que vai me ajudar a conquistar Arthur, este sim é meu pretendente! Bom, mesmo que ele ainda não saiba! – Letícia falou sorrindo.
- Mesmo assim, é estranho! Nunca saí com ninguém com quem você já tivesse saído antes. E se rolar algo mais?! Vou ficar lembrando que você já fez com ele e vou brochar na horinha! – Leila sorria enquanto falava. – E se ele ficar comparando nós duas? E se...
- Aiii... não fica pensando nisso! Sua cabeça vai estourar daqui a pouco! Relaxa! Pensa nisso como uma experiência diferente. Não custa tentar, vai?!
- É, Lê, fazer o quê?!? Eu sempre caio nas suas loucuras, desta vez não vai ser diferente, não é mesmo?! Só que tem uma coisa, você me convenceu porque sou sua melhor amiga e não sei falar não pra você, mas... e o Cauã? Como vai convencê-lo a sair comigo se é em você que ele está interessado?
- Já te disse que ele não está interessado em mim! Somos apenas bons amigos! E outra coisa, pode deixar que com ele eu me entendo! – Letícia falou piscando para a amiga e pegando o celular para ligar para Cauã. Ela saiu da sala para que Leila não ouvisse a conversa, pois, caso desse errado, a amiga não ficaria tão triste assim com a tentativa falha. E Letícia ligou.
- Alô, Cauã?
- Oi lindona!!! Como você ta?
- To bem, e você?
- Com saudades!
- Você não tem jeito, neh! Olha, eu to ligando pra você pra te pedir uma coisa...
- O que você quiser!
- Tem certeza?
- Absoluta, minha queridona!
- Então lá vai: quero saber se você pode sair com a Leila hoje? – Letícia falou e um silêncio inesperado se fez acompanhado de uma longa gargalhada do outro lado da linha. – O que foi tão engraçado assim?
- Jura que é sério isso? – Cauã perguntou, não escondendo a surpresa.
- E porque não? Você não falou que eu podia pedir o que eu quisesse?! Então, estou pedindo agora! Sabe o que é, não precisa ser necessariamente um encontro, basta que você a leve para sair um pouco. Ela anda trabalhando muito, está com a cabeça meio atordoada, enfim, precisa sair!
- Bom, se é um pedido seu, pode falar pra ela que estamos marcados! Só quero saber uma coisinha...
- O que?
- Você vai também? – ele perguntou de brincadeira.
- Claro que não! – ela respondeu sorrindo. – Na verdade, vou estar atrás da minha caça!
- Hum, entendo. Vai encontrar com Arthur?!
- Mais ou menos. Ele não sabe que vou encontrá-lo, vou simular uma coincidência! – ela sorriu. – Fingir que entrei no pub por acaso e o encontrei meio sem querer, para a “minha” surpresa!
- Você está ficando esperta! Com quem anda aprendendo essas coisas, hein?
- Com você! – ela falou sorrindo.
- Hum... então seu professor não é muito bom não!
- Porque diz isso?
- Nem imagina o por quê? Então devo ser mesmo um péssimo professor! – ele falou sorrindo, porém com uma pitada de ironia.
- Vai se arrumar, seu bobo! Leila vai estar te esperando às 9 horas no apartamento dela, ok! Como eu sei que você é um cavalheiro não preciso nem ficar aqui te dando recomendações. Só vou te pedir uma coisinha só...
- O que você quiser meu bem!
- Cuida bem dela ta?! Ela não tem estado muito bem estes dias, alguns conflitos da cabeça dela. Só quero que ela se divirta um pouco. Posso contar com você pra isso também?
- Pode deixar meu anjo. Sua amiga estará em ótimas mãos!
- Obrigada, gatinho! Fico te devendo mais essa!
- Olha que eu cobro, viu!
- E eu pago! – ela sorriu novamente – Beijão!!! – Letícia falou desligando o telefone. Virando para a porta do escritório ela gritou- Leila, vamos pra casa nos arrumar! Temos um encontro às 9 horas! – depois falou baixinho para si mesma – você com Cauã e eu com meu Arthur!

Já se passava das 9 horas quando Letícia terminou sua produção. Colocou seu melhor vestido, estava toda perfumada e deslumbrantemente sedutora. Não sabia ao certo se encontraria Arthur naquela noite, pois ela só sabia que ele costumava freqüentar o pub para onde ela estava indo. Mesmo assim Letícia não desanimou, pegou as chaves e logo saiu de casa. Naquela noite não pôde contar com a ajuda de seu amigo, Cauã, por conta do encontro entre ele e Leila. Na verdade ela havia preferido fazer daquela forma, talvez sem Cauã por perto ela se concentrasse mais em seduzir Arthur, que não saia da cabeça dela de forma alguma.
O pub tinha uma movimentação diferente, pessoas com vestimentas estranhas, pelo menos para Letícia. Realmente, haviam mulheres super provocativas com aquelas roupas em látex, saltos altíssimos e seus decotes sensuais. Leila havia comentado sobre o pub, mas não havia citado tantas peculiaridades como as que ela estava encontrando ali. Com certeza não era um pubzinho como outro qualquer, os donos realmente haviam se dedicado aos detalhes. O nome do pub também era um tanto peculiar, chamava-se Dungeon Pub, mas Letícia não havia se atentado a isso, não até chegar aquele pub. Ela observava as paredes, estava completamente estarrecida, eram cordas para todos os lados; correntes penduradas; alguns equipamentos que mais pareciam máquinas de tortura, enfim, tudo tão estranho quanto os freqüentadores. Letícia tentou amenizar a surpresa com o pub procurando por Arthur que, pelo visto, ainda não havia chegado.
- Tomara que ele venha! – ela pensou. – Safadinho ele! Olha o pub que freqüenta, parece mais uma casa de swing ou coisa parecida. Deveria se chamar Dungeon Hotel e não Pub! – ela sorria enquanto refletia. Se aproximando do bar da casa, ela puxou o banquinho e se sentou. Pediu ao garçom um drink e ficou observando o movimento enquanto esperava ansiosamente por Arthur. A Tequila Sunrise parecia estar fazendo efeito, o pubzinho estava praticamente virando de cabeça pra baixo nas imaginações de Letícia que vez ou outra via alguma cena curiosa quando não fortemente explícita. – Oras! – ela pensou. – Leila me mandou para uma casa de swing sem me alertar antes! – ela falava consigo mesma. Mas Letícia, que era super maliciosa, não estava nem um pouco incomodada com tais cenas, pelo contrário, ela tentava imaginar o que um cara tão conservador (pelo menos aparentemente) como Arthur estaria fazendo freqüentando um lugar daqueles. A imaginação fértil de Letícia a fazia viajar por mil e um lugares, mas jamais pensaria que a verdade sobre Arthur e todo aquele mistério seria revelada para ela a poucos minutos. De certo, ela jamais poderia imaginar que um homem como Arthur fizesse coisas como aquelas que ela estava prestes a ver.
Como havia esperado a muito tempo por Arthur e nada dele aparecer por ali, Letícia resolveu desencanar e dar uma volta para conhecer e aproveitar melhor aquele local. Não havia quase nada que Letícia já não houvesse feito na vida e, sempre que ela encontrava algo novo ela se propunha a experimentar; isto é, sempre até Letícia se encontrar num ambiente como aquele do pub. Andando mais um pouquinho Letícia encontrou algumas salas fechadas, ela falou baixinho:
- Devem ser salas de swing, não há mistério! É só entrar e me socializar, eu adoro mesmo fazer amizades!
Mas qual não foi a surpresa de Letícia quando, ao abrir uma das portas, se deparou com um grupo de pessoas em um tipo de ritual onde uma delas era incansavelmente chicoteada por um homem que trajava uma espécie de capa que escondia por completo seu rosto e todo seu corpo. As pessoas não se incomodaram com a presença de Letícia entre eles, continuaram o ritual sem qualquer preocupação. Letícia logo fechou a porta, pensou que talvez cada sala teria um motivo diferente, decidiu então abrir as outras portas para ver o que encontraria em cada uma. E mais surpresas a esperavam. Na segunda porta aberta Letícia encontrou um casal de lésbicas, uma mais linda que a outra, numa sintonia perfeita, porém com o mesmo tempero curioso que havia visto na sala anterior. As duas usavam roupas sexies, ambas em látex, uma estava mais coberta, esta parecia ser a ativa da relação; a outra parceira estava deitada numa cama que mais se parecia com aquelas usadas em salão de beleza para massagem ou depilação (ela se estremeceu quando pensou na segunda utilidade); trajava roupas mais decotadas e, curiosamente, estava sendo perfurada, pelas mãos da parceira, por pequenas agulhas que penetravam vagarosamente passando por um lado de sua aureola até chegar ao outro, fazendo pingar algumas gotículas de sangue após serem retiradas pelo lado oposto. Era curioso como a mulher que estava sendo ferida pela agulha não esboçava nenhuma feição de dor, apenas gemia calorosamente como se estivesse num gozo interminável e profundo. Letícia novamente estranhou a peculiaridade daquele lugar. Resolveu deixar as salas de mão e dar mais uma volta pelo ambiente; na cabeça dela ela já havia visto coisas estranhas demais pra uma só noite. Mas quando voltou para o bar percebeu que o ambiente já estava praticamente dominado por todos aqueles atos bizarros (para ela que ainda não sabia do que se tratava). Decidiu então sair em busca de Arthur o mais rápido possível para que, se não o encontrasse, ela pudesse sair o quanto antes daquele lugar estranho.
Letícia percorreu todos os cantinhos do pub e, antes de pensar que talvez naquele dia Arthur não houvesse ido até o pub, cogitou a idéia de que ele pudesse estar em alguma daquelas salas. Soube assim que, para ter a certeza de que ele não estava por lá, ela deveria adentrar todas as salas e procurar por ele. Cada porta que ela abria trazia uma surpresa diferente para ela, mas a surpresa maior que ela teve foi, ao abrir uma das portas, encontrar seu amado naquela sala, portando uma palmatória em uma das mãos e com a outra segurando uma mulher por uma espécie de coleira com guia marcada por um símbolo parecido com um “O”. Mais bizarra do que aquela situação parecia para Letícia seria impossível descrever. Ela jamais esperava ver uma situação como aquela; o chão de Letícia desabou sobre seus próprios pés. Sua cabeça rodava mil mundos e ela ainda não acreditava no que via. Letícia sentiu sua garganta secar na mesma hora. Estava ali, parada, na frente do homem que reinava em todos os seus desejos e pensamentos, porém, perplexa, não conseguia falar um “olá”. Arthur também estava surpreso com a visita inesperada. Realmente não era a melhor forma de contar para uma pessoa conhecida que era um Mestre do BDSM, mas ele não estava muito preocupado com isso.



- Espero que isto tenha quebrado o encanto! – ele falou, soltando a coleira e indo em direção a Letícia. – Surpresa, minha querida? – ele perguntou parando frente a frente com ela, deixando a moça que o estava acompanhando de lado. Embora não tenha deixado transparecer em momento algum, Arthur também se sentia atraído por Letícia, mas ele nunca entrava num relacionamento por entrar, só porque alguém o deixava maluco de tesão exatamente assim como Letícia vinha fazendo com ele, e estava fazendo inclusive naquele exato momento usando aquele micro vestido vermelho. – Se veio tentar me provocar novamente, eu te garanto mocinha, não vai funcionar! Como você está vendo aqui nesta sala, tenho desejos completamente complexos e não será seu jeitinho de garotinha mimada e manhosa que vai me fazer mudar meus estilo de vida! – ele falava, sendo exatamente como ele gostava de ser: curto e grosso. Letícia não falava um pio, todas aquelas palavras proferidas pela pessoa a quem ela tanto admirava e por quem nutria um tesão aflorado a estavam machucando muito. Estava envergonhada por ter chegado aquele ponto, parecia que ela estava perseguindo-o este tempo todo. Se ele sabia quais eram as intenções dela com ele, porque não havia se pronunciado até agora?! Talvez ele não a quisesse mesmo, porque ela deveria insistir tanto?!
- Você está certo! Tenha uma ótima noite! – ela disse por fim virando as costas para Arthur e saindo daquela sala. Letícia pagou a comanda e fez questão de sair o mais rápido possível daquele lugar. No caminho de volta Letícia veio refletindo sobre sua atitude perante as palavras de Arthur. – Eu não tinha mesmo coisa melhor pra falar? Tenha uma ótima noite? Que nada! Tenha uma péssima noite, seu idiota! Como pôde falar aquelas coisas pra mim? Quem ele pensa que é? Também, que burrice minha ficar atrás dele assim! Onde eu estava com a cabeça?! – ela resmungava enquanto seguia o caminho de casa. Ela estava inconformada com o tratamento que recebera de Arthur, nunca nenhum homem havia falado assim com ela antes. – Ele me deu um fora?! – ela falava desacreditando naquilo. Estava acostumada a dar foras e não a levar foras, ela estava ficando completamente fora de controle com toda aquela raiva que estava sentindo por Arthur. Letícia entrou pro estacionamento do apartamento dela tão rápido que nem percebeu o carro de Cauã parado na frente do prédio. Ela levou um susto quando, chegando ao andar de seu apto, se deparou com Cauã que estava encostado na porta. Aquela cena foi magistral para ela, tudo o que ela precisava no momento era do colo de Cauã. Mas a primeira reação que Letícia teve não foi de muito contentamento, pois se Cauã estava ali na porta dela, aquilo significava que a amiga estava sozinha.



Continua... ;)

2 comentários:

  1. Hummmmmmmm!!!!Tá cheirando a complô rsrsrss. Será que o cara não é tão bonzinho assim rsrsrss. Guria vc tem q publicar um livro de contos. Besos

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  2. Rsrsrs... amiga, sabe que vou passar a considerar esta hipótese!?! rsrsrs... besos ;)

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