quinta-feira, 24 de março de 2011

Estranha Sedução (Continuação 15)

- Estava saindo ou chegando? – ele perguntou misturando brincadeira com ironia.
- Estava esperando você chegar! – ela disfarçou. – Vamos?
- Vamos pra um hotel? – ele sugeriu, na verdade mais para ver a resposta e a reação de Letícia. Ele a convidou, pois pensou que se ela dissesse que não talvez aquilo seria um sinal de uma traição; e Letícia foi pega no jogo de Cauã.
- Para um hotel? Hoje? – ela falou demonstrando surpresa.
- É! Para um hotel! Por quê? Está muito cansada hoje? Andou fazendo estripulias no trabalho? – ele brincou novamente com ironia. Letícia percebeu a desconfiança dele, não quis dar corda e, mesmo cansada, aceitou ir para um hotel com Cauã.
- Tudo bem, se você quer... podemos ir!
- Estava brincando! Sei que você está cansada. E hoje sou eu que não posso, tenho uma reunião às 21:00 horas. Vamos pra casa, assistimos um filme pequeno e depois vou para a reunião, pode ser?
- Pode, claro que pode! – ela falou aliviada, pois havia se lembrando que ainda poderia estar com marcas no corpo e não poderia deixar que Cauã as visse.
Eles passaram antes num restaurante japonês e depois na locadora. Assistiam ao filme enquanto deliciavam um saboroso yakisoba, faltavam apenas alguns minutos de filme e aproximadamente uma hora para a reunião de Cauã quando o celular dele tocou. Cauã olhou o número e, visivelmente irritado, levantou-se para atender na varanda. Ele demorou algum tempo, então Letícia parou o filme para chamá-lo, assim ele não perderia muito do filme. Quando Letícia chegou na varanda percebeu que Cauã discutia com a pessoa que estava do outro lado da linha, ela estranhou. Ela se aproximou dele, mas ele não percebeu. Letícia pôde ouvir alguma parte da conversa antes que ele a visse, e nela Cauã falava:
- O problema é que eu já falei pra você não me ligar! Se estamos marcados para às 21:00 horas, eu estarei lá neste horário! – a pessoa respondeu e ele continuou: - Eu não vou correr pra lá só por que você quer! Este é um problema seu que você criou e agora eu tenho que consertar?! Escuta aqui ô filha da puta, eu... – ele falava quando repentinamente olhou para trás e viu Letícia observando a conversa. – Te ligo daqui a pouco! – Cauã desligou o telefone. – Há quanto tempo está aí?


- Tempo suficiente para escutar você falando para a pessoa não te ligar! Agora eu te pergunto: o que está acontecendo Cauã?
- Sua mãe não te ensinou que é feio escutar a conversa alheia? – Cauã falou se aproximando.
- Cauã, com quem você estava falando? Será que eu posso saber?
- Era só um sócio chato! Acho que vou ter que ir agora, assistimos ao filme amanhã, tudo bem?
- Claro, tudo certo! Vou me arrumar, me espera só um pouco, ta?!
- Vai se arrumar pra quê?
- Vou com você a esta reunião assim como você costuma ir às reuniões que eu tenho! Espere só um pouco que logo estarei pronta!
- Não! Você não deve ir!
- Não? Porque não?
- Bom, porque será uma reunião muito chata e, além do mais, você deve ter tido um dia cansativo!
- Imagina! Eu não me importo, você se importa? Não neh... então vou me arrumar! – ela falou não dando espaço para Cauã responder. Ele foi até o quarto atrás dela.
- Lê, minha querida! É bom que você queira me acompanhar, mas hoje não vai dar mesmo! Os sócios não ficarão à vontade com você presente na reunião. Na próxima eu te levo, ok!
- O que você está escondendo Cauã? Porque não posso ir à reunião com você? Por um acaso você está me traindo, é isso?
- Não!!! – ele falou sorrindo. – De onde você tirou isso? Claro que não estou te traindo! Acontece que eu realmente não posso te levar hoje! Tenta entender, tudo bem! Tchau, meu amor! Volto assim que puder, mas não precisa me esperar acordada! Beijo! – ele falou sem deixar tempo para que Letícia reagisse. Ela até teve a idéia de seguir Cauã, mas achou que não deveria se preocupar, ele não seria louco de mentir pra ela. E, depois, ela havia tido uma tarde maravilhosa ao lado de Arthur, não queria estragar o resto do dia com besteiras. Ela se sentou e terminou de assistir o filme. Adormeceu no sofá esperando Cauã que só chegou de madrugada.
Cauã entrou quase sem fazer barulho. Letícia ainda dormia no sofá, ele a pegou no colo e a levou para a cama. Arrumou tudo como se ele já estivesse lá desde cedo. Faltavam poucas horas para Letícia ir trabalhar, Cauã quis fazer uma surpresa como há algum tempo ele não fazia. Encomendou uma cesta de café da manhã acompanhada de rosas vermelhas. Quando ela acordou tudo já estava num baú que ficava no pé da cama dela.
- Bom dia, meu amor! – ele falou beijando-a.
- Bom dia... – ela falou surpresa. – Estamos comemorando algo em especial?
- Não, por quê?
- Café da manhã na mesa... – ela falou apontando.
- Eu não posso te agradar de vez em quando não?
- Pode, pode sim... mas fazia tanto tempo que você não preparava um... e flores também... não sei...
- Deixa eu te servir logo e vê se para com essas neuras! É só um café da manhã! Simples assim! – ele falou servindo Letícia.
Enquanto eles comiam o celular de Cauã novamente tocou. Ele pegou, olhou o número e desligou sem atender. Letícia perguntou quem era, mas ele desconversou. Ela foi se arrumar pra trabalhar, ele ficou deitado, com sono ainda por não ter dormido nada. Ela perguntou:
- Que horas você chegou ontem?
- Não me lembro, mas não foi muito tarde não!
- Devo me preocupar com seu sono fora de hora?
- Claro que não! Você vai trabalhar tranqüila que mais tarde passo lá pra irmos almoçar juntos!
- Tá bom... vou tomar banho primeiro! – ela falou duvidosa. Entrou pra tomar banho, quando saiu Cauã estava novamente na varanda falando ao celular. A mesma conversa da primeira vez, só que desta vez Cauã se mostrava mais irritado ainda.
- Tu ainda vai se dar mal nessa história! – ele falava. Letícia não tinha este costume, mas como estava achando estranhas todas aquelas ligações, ela ficou escutando atrás da porta. E Cauã continuava: - Este não foi o nosso trato! Se eu sair perdendo alguém vai pagar muito caro por isso! – ele falou, a pessoa respondeu no outro lado da linha, ele continuou: - Tá certo, eu vou! Mas é o seguinte, se isso não funcionar vai sobrar pra você também! Você me conhece! Melhor ninguém querer me desafiar senão... – a pessoa o interrompeu do outro lado, ele prosseguiu: - Escuta aqui você! Eu já dei um jeito de sumir com aqueles dois, agora estamos falando do nosso negócio! Se der alguma merda eu te garanto, você vai ser o próximo!
Letícia se assustou quando ouviu Cauã falar essas coisas ao telefone. Ele desligou e foi entrando. Letícia tomou um susto e tentou se afastar da porta, mas, sem querer, esbarrou num banquinho que estava perto. O barulho foi certeiro e Cauã, que sempre estava atento a tudo, não deixou de perceber o que estava acontecendo.
- Ouvindo atrás da porta! Que coisa feia, Lê! – ele falou com dentes serrados.
- Err... eu não estava atrás da porta! – ela tentou dar uma desculpa esfarrapada, mas não funcionou.
- Não mente! Quero saber o que ouviu desta vez! – ele falou se aproximando.
- Quer saber, eu ouvi mesmo! – ela o desafiou. – Ouvi todo esse papo seu aí, e não vem tentar amenizar a situação não, eu sei do que se trata!
- Ahh, então você sabe do que se trata? – ele perguntou com ironia.
- Sei sim! – ela falava se afastando dele. – Cauã, você matou alguém!
- Hahahahaha!
- Está rindo do quê? Vai me dizer que não era disto que você estava conversando com seu comparsa?!
- Comparsa? Agora eu tenho um comparsa! Hahaha... – ele continuava, debochando de Letícia.
- Cauã, você tem noção do que significa isso? No que você está metido? Eu quero saber agora!
- Se eu dissesse teria que te matar também! – ele falou completando: - Eu adoro usar esta frase!
- Não brinca comigo! – ela falou com raiva.
- Não estou brincando! – ele ficou sério.
- Como é?
- Isto mesmo que você ouviu: eu não estou brincando!
- Então está me ameaçando agora? – ela o enfrentava.
- Não, não estou te ameaçando! Eu sei que você não vai fazer nada, você não é maluca o suficiente para fazer alguma coisa quanto a isto!
- Ah não?! Pois você ficaria surpreso então!
- Olha aqui, garota! Pro seu governo, primeiro: eu não matei ninguém AINDA! Nunca foi preciso! Até porque eu tenho quem faça isso por mim!
- Que absurdo você está me dizendo???
- Deixa eu terminar! Em segundo lugar, quero que saiba que, antes que tente fazer qualquer coisa contra mim, vou estar de olho em você! Melhor, de olhos bem abertos!
- Você não tem o direito de me ameaçar!
- Não mesmo! Mas tente reagir pra você ver! – ele falou segurando o braço de Letícia. Ela o observou por algum tempo, viu que havia se metido na maior furada da vida dela. Cauã, que no começo havia se demonstrado um homem carinhoso e cuidadoso, agora estava se tornando seu pior pesadelo. – A partir de hoje quero que saiba com quem está lidando!
- Não preciso saber disso agora! Eu já suspeitava! Cauã eu quero que saia da minha vida, por favor! – ela pediu.
- Agora? A esta altura do campeonato? Perdeu o juízo?
- Por favor, Cauã! Eu prometo não contar nada a ninguém sobre o que eu ouvi... só quero ficar sozinha...
- Não! Não vou te deixar! – ele falou abraçando ela. – Letícia, eu te amo!
- Se você me ama, então faz o que é certo! Deixa eu viver minha vida! – ela falava tentando aproveitar aquele momento de afeto de Cauã.
- Nunca! Eu amo você, mas perto de mim! Você nunca vai ser feliz longe de mim!
- Quem te garante isso?
- Eu garanto! Não vou deixar você ficar longe de mim e pronto! E não queira dar uma de espertinha pro meu lado não! Eu tenho pessoas te vigiando, me contando cada passo seu! – ele ameaçou novamente. Letícia percebeu que aquilo era mais sério do que ela pensava.
- Eu tenho amigos aqui! Você não seria louco de fazer nada contra mim! Eu te denuncio antes!
- Ah, você tem amigos!? Por um acaso você não estaria se referindo a sua “AMIGA” Leila, estaria?
- O que tem a Leila? Porque está falando assim dela?
- Não é querendo tirar o chão destes seus pezinhos lindos não, mas Leila é minha aliada nisto!
- O quê? – Letícia perguntou extremamente surpresa.
- É meu anjo, sua amiga é minha “comparsa”, como você diz!
- Você a ameaçou também? Não meta Leila nisto, ela não tem nada a ver com você!
- Na verdade eu não a ameacei! Mas esta história eu te conto num outro momento, se necessário! Agora vamos ao que interessa meu bem! Vá para o trabalho, senão você se atrasa! – ele falou entregando o vestido à Letícia que rapidamente o vestiu. – E lembre-se do que conversamos: não tente nada contra mim ou você se arrependerá! – ele finalizou entregando a bolsa para ela. – Beijo, se cuida! Passo no mesmo horário de sempre para buscá-la! Dirija com cuidado! Muito cuidado!
Letícia saiu sem olhar para trás. Pensou em ir direto à delegacia, mas não sabia se deveria. Cauã era muito influente, tinha amigos em muitos lugares. Ela não sabia em quem podia confiar. E também tinha Leila envolvida, e Letícia não sabia qual o motivo. Cauã poderia estar ameaçando a amiga também, ou não, afinal, Leila vinha se demonstrando uma amiga muito ciumenta e invejosa, ela não sabia qual era a finalidade daquela parceria entre Leila e Cauã, portanto, não deveria confiar na amiga também até provar o contrário. Pensou em ligar para Arthur e contar tudo o que estava acontecendo, mas cogitou a possibilidade de Cauã ter grampeado seu celular. Resolveu chegar à empresa e tentar descobrir o que Leila tinha com aquilo para depois saber como proceder.
Ao chegar à empresa, deu logo de cara com Leila. Calmamente, para não despertar curiosidades, Letícia a chamou para conversar na sala dela. Quando entraram Letícia fechou a porta e foi direto ao assunto:
- Porque caiu na conversa de Cauã?
- Do que está falando, amiga?
- Quero a verdade, Leila! Você sabe muito bem do que estou falando!
-Desculpa Letícia, eu ia te contar... – Leila falou, imaginando que Cauã tivesse contado sobre os dois terem transado na sala de reunião.
- Amiga, ele também te ameaçou? Pode falar! – Letícia se descontrolou. Leila percebeu que havia outra história envolvida naquele assunto, resolveu jogar verde até descobrir e só assim dar a versão dela.
- Como você descobriu? – Leila disfarçou.
- Eu descobri que ele não presta! Ele está envolvido com alguma coisa, e agora está me ameaçando! Contou que você está me vigiando a mando dele! Sinto muito amiga! Ele fez isso com você por minha causa! E agora também está te ameaçando! Perdoa-me por isto! – Letícia falou abraçando a “amiga”. Nem passava pela cabeça de Letícia que a melhor amiga pudesse estar por trás daquele complô por qualquer outro motivo, muito menos pelo motivo de estar perdidamente apaixonada pelo namorado dela.
- Foi exatamente isto que aconteceu! - Leila complementou retribuindo o abraço. – Mas me diz, o que você descobriu? – Leila perguntou. Letícia contou tudo sobre a conversa que ela havia escutado, contou sobre a ameaça de Cauã, enfim, estava nas mãos da amiga também sem que percebesse.
- Enfim... eu preciso entrar em contato com Arthur o mais depressa possível! – Letícia falava quando bateram na porta.
- Espere amiga! Se recomponha enquanto eu verifico quem é! – Leila falou indo abrir a porta. As duas ficaram surpresas quando viram Cauã entrando.
- Então, uma reunião particular? Posso saber do que se trata? – ele falou entrando com rosas para entregar à Letícia.
- Err... não é nada demais Cauã! São só detalhes da empresa! – respondeu Leila se fazendo de amiga de Letícia.
- Detalhes da empresa? – ele falou entregando as rosas à amada. – Presumo que a empresa não esteja em um de seus melhores momentos; observe, Leila... está fazendo até meu amor chorar! – ele falava demonstrando que não havia acreditado nas palavras de Leila e limpando o rosto de Letícia que realmente estava chorando.
- Não é nada demais, Cauã! Agora, precisamos trabalhar! Volte depois!
- Volto sim, com certeza que volto! Te pego para almoçarmos juntos, meu amor! – ele falou beijando Letícia e saindo da sala.
- Deixa eu acompanhar ele para nos certificarmos de que ele foi realmente embora! Já volto, amiga!
- Está bem!
E assim Leila saiu atrás de Cauã. Não queria ver se ele ia embora, queria na verdade uma oportunidade de conversar com ele sem que Letícia estivesse presente. Ela então o alcançou no corredor da empresa e, juntos, entraram no elevador.
- O que está acontecendo agora, Cauã?
- Sua amiga já não lhe contou tudo? – ele ironizou.
- Se quiser que eu o ajude, vai ter que me contar tudo! – ela falou. Cauã pensou que não poderia perder Leila como aliada, então contou o que pretendia.
- Nós dois sairemos ganhando nessa! Eu quero Letícia e você quer os méritos do projeto todos pra você!
- Não tem a ver com os méritos do projeto! Tem a ver com você!
- Eu não me lembro de ter te dado direito de opção!
- Então se vire sozinho! – Leila falou fazendo que ia sair.
- Espera aí! – ele a pegou. – Enquanto eu e Letícia estivermos por aqui eu vou me encontrar com você quando puder!
- Enquanto estiverem por aqui?
- Vou resumir: estou com alguns problemas com meus sócios e talvez tenha que mudar daqui! Nesta mudança pretendo levar Letícia comigo!
- E como vai convencê-la? Sim porque, pelo que percebo, ela está irada com você! Quer até te denunciar!
- Ela falou isso? – ele arregalou os olhos.
- Bem, acho que não com essas palavras... mas...
- Acha? Como quer manter nosso trato se não sabe me passar nem o que conversaram?
- Olha, fica tranqüilo que eu vou acalmá-la, ta! Mas não se esqueça de mim, porque posso ajudar muito você, assim como posso tornar sua vida um inferno ao lado de Letícia!
- Oras, também sabe ameaçar... mas cuidado, posso não esquecer do que me falou!
- Diferente da Letícia, eu não tenho medo de você! Agora deixa eu ir cuidar do estrago que você fez pra ver se ainda tem conserto! – ela falou roubando um beijo de Cauã antes que ele saísse do elevador.
Leila sabia que aquela era a hora de manter os dois na mão dela. Tentaria manipulá-los e separá-los antes que Cauã concluísse o plano de levar Letícia embora com ele. Primeiro seria amiga de Letícia, porém sem soltá-la demais com a desculpa de ainda estar sendo ameaçada por Cauã. Segundo seria cúmplice de Cauã, mas da forma que ela bem entendesse, o fazendo acreditar que ela estava de olho em Letícia e que contava tudo da amiga pra ele. Estava tudo encaminhado.
- Ele foi embora? – perguntou Letícia ao ver a amiga entrar.
- Sim, foi!
- E então, devo contar a polícia? O que eu faço agora?
- Letícia, se for a polícia ele vai saber! É melhor esperar um pouco, as coisas vão se acalmar! Depois falaremos com quem eu sei que pode ajudar você!
- Quem?
- O Arthur!
- Não! Ele não pode saber disso!
- Porque não? Amiga, ele está tão envolvido quanto você!
- Porque diz isso?
- Acha que não sei que anda se encontrando com ele?! Amiga, sei tudo sobre você, esqueceu? Sou sua melhor amiga! Você é como minha irmã mais nova que eu tenho que defender! E é isso que vou fazer agora! – Leila falou abraçando Letícia. – Agora temos que fazer um trato pra eu poder te ajudar, certo?!
- Tudo bem!
- Você vai trabalhar normalmente, como se nada estivesse acontecendo! Aqui no trabalho ninguém pode saber disso! Volta pra casa com Cauã, como estava fazendo nestes meses; garanto que ele não vai fazer nada contra você! Bem ou mau ele te ama e, com certeza, não vai querer que nada de ruim aconteça! Temos que descobrir mais coisas sobre ele, assim fica mais fácil provar que ele está metido com coisa errada!
- Está certa! Vou fazer como pediu! Vai ser difícil continuar com Cauã, mas acho que agora é a única saída! – Letícia falou entristecida.
Naquela noite Cauã a levou para jantar num restaurante muito fino. Conversaram pouco, nem tocaram no assunto do telefonema que ele havia recebido. Cauã achou melhor esfriar a cabeça de Letícia com outras coisas, assim não teria que ficar ameaçando ela. Quando chegaram em casa ele foi assistir televisão, ela falou:
- Vou dormir se não se importar!
- Claro que não! Teve um dia cansativo hoje, quero que descanse! Boa noite, meu bem! – ele falou beijando ela.
Letícia na verdade não conseguiu dormir, tinha mil coisas na cabeça, mas não queria ter que ficar com Cauã além do necessário. Ele logo veio pra cama na esperança de ainda encontrá-la acordada, mas ela fingiu dormir. Alguns dias se passaram e eles nessa mesma rotina. Letícia não gostava nem de vê-lo tocar nela, acabavam não fazendo nada. Ela sempre perguntava para Leila, a falsa amiga, quando deveriam tomar alguma atitude contra ele, mas Leila pedia para a amiga esperar mais alegando não terem provas o suficiente. Quanto às provas insuficientes, era a pura verdade, pois Cauã, alertado por Leila, estava tomando um cuidado extremo para não deixar pistas de nada que ele fazia. Mas por outro lado, Leila fazia questão de deixar as coisas como estavam porque Cauã estava mantendo a promessa de encontrá-la vez ou outra fora do expediente; e também aquela situação estava favorável a ela.
Fazia um tempo que Letícia não falava com Arthur. Ele já estava achando estranho, pois ela havia prometido não se distanciar mais uma vez. Era uma quarta-feira quando Arthur, preocupado, tomou coragem de ir procurar por Letícia no trabalho dela. Para não fazer curiosos, foi no horário de almoço, assim sabia que ela estaria no refeitório assim como tantos outros funcionários, clientes e sócios. E ele acertou, pois chegando lá a encontrou almoçando com a amiga Leila. Se aproximando um pouco, ele esperou o momento certo para falar com ela. Letícia ficou surpresa com a presença de Arthur no refeitório, mas não parecia tão contente assim. Ele fez um gesto para que ela saísse de lá, ela, sem saber se falava com Leila ou não, obedeceu Arthur. Avisou à amiga que iria ao banheiro e Leila, já acostumada com Letícia seguindo todos os seus conselhos, nem imaginou o que a amiga estava aprontando. Arthur recebeu Letícia com um tapa no rosto seguido de muitos beijos que eram retribuídos por ela. Ele a abraçava forte, sentia o cheiro dela, perguntava:
- Porque sumiu de novo?
- Desculpa, eu não podia! – ela falava com lágrimas nos olhos.
- O que houve? Porque está assim? – ele perguntou desconfiado. Letícia se sentiu segura nas mãos de Arthur, queria ir embora, mas sabia que não podia. Aflita ela pediu:
- Me leva daqui! Por favor! – ela pediu desejando por um momento escapar dos olhos perseguidores da amiga, daquela prisão que o trabalho e a casa haviam se tornado para ela.
- Vamos! – ele falou pegando-a pelo braço e puxando-a pelas escadas. Os dois saíram correndo até chegar no carro de Arthur. Quando passavam pela portaria, nem Letícia nem Arthur perceberam, mas cruzaram com o carro de Cauã entrando na empresa. Cauã, que sempre entrava despercebido, também não viu os dois. Ele só foi descobrir que Letícia havia fugido da empresa quando a procurou no refeitório e não a encontrou. Descendo as escadas até a sala de Leila, ele a encontrou mais preocupada que tudo.
- Onde está Letícia? – ele perguntou fazendo Leila tomar um susto ao vê-lo por lá.

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