sábado, 6 de agosto de 2011

Uma Música Brutal - Primeiro Capítulo (parte 1)

Ele sempre começava dizendo: “Prometo que não vai doer!”, mas no fim era sempre a mesma coisa. O homem carinhoso por quem eu havia me apaixonado a princípio não era mais o mesmo havia muito tempo. Não importava lugar ou horário, ou até mesmo quem estivesse por perto; as humilhações e torturas por algum motivo ou momento raivoso da parte dele já repetia, pelas minhas contas, por mais de quatro vezes. Já havia tentado me libertar antes, mas, não sei se por medo ou por ainda gostar muito dele, eu não conseguia ficar longe por muito tempo. Mas aquela última noite havia sido a gota d’água para mim.
Era um dia como outro qualquer, meio de semana ainda, e ele inventou de ir a uma festa que um amigo em comum nosso havia nos convidado. Ele sabia que eu não gostava de festas no meio da semana: primeiro porque eu tinha um grupo de danças e costumávamos ensaiar ou treinar todas as noites; segundo porque no outro dia tinha que acordar cedo para ir até a faculdade.
Naquele dia pela manhã Victor (meu namorado) me ligou para combinarmos de irmos a tal festa, mas com muito custo consegui convencê-lo de que não seria uma boa ir à festa, pois estaria muito cansada. Falei que alugaria um filme e, depois do meu ensaio com o grupo ele passaria para me buscar e iríamos assistir ao filme juntos na minha casa. Ele aceitou numa boa, para a minha surpresa já que nos últimos meses ele estava se demonstrando um verdadeiro idiota incompreensível.


Como combinado, depois da faculdade passei na locadora e peguei o filme que ele havia escolhido. Organizei tudo em casa, tomei um banho e fui para o treino/ensaio do meu grupo de dança. Neste meu grupo só havia eu e uma amiga minha como presença feminina, o resto era tudo homem (garotões, na verdade), e isto às vezes deixava meu namorado bem incomodado. Naquela noite havia um passo novo a ensaiar e, como havia sido um de nossos amigos quem o havia criado, este ficou incumbido de passar o passo para os outros integrantes do grupo. Ensaiávamos de quatro em quatro para ficar mais fácil a compreensão do passo, já que era um estilo de dança bem difícil. Neste dia ensaiamos eu, minha amiga, mais um amigo e o criador do novo passo. Estávamos bem à vontade e eu mais ainda, um tanto feliz por não ter brigado com Victor naquele dia (o que era raro nos últimos tempos). Com a empolgação não percebi quando Victor chegou. Ele se sentou em um lugar onde eu não pude vê-lo e ficou ali, me observando, até que o treino chegasse ao fim. Quando terminei de me arrumar foi um de meus amigos que me chamou e avisou que Victor esteve por lá me assistindo, mas que havia saído poucos segundos antes do treino acabar. Fiquei confusa, pois o combinado era ele me esperar lá mesmo. Enquanto o pessoal conversava, eu me arrumei e saí do treino tentando ver se achava Victor pelo caminho, mas não precisei andar muito, ele estava me esperando no corredor do salão.


- Se divertiu bastante hoje neh?! – Victor falou me pressionando contra a parede fria do corredor. Eu fiquei feliz em vê-lo ali, o abracei e disse:
- Que bom que você veio mais cedo! Me disseram que você estava me vendo dançar, e então, o que achou??? – perguntei esperando algum orgulho ou satisfação da parte dele.
- Quer mesmo saber o que eu achei? – ele perguntou friamente. Eu estranhei.
- Claro amor! Você nunca vem me ver, eu quero saber o que você achou da sua namorada! – falei na maior inocência. Victor me pressionou forte contra a parede, retirando meus braços que ainda estavam em volta dele.

- Eu acho que você é uma vadia! É isso que eu acho! – Victor falou com dentes cerrados e olhos esbugalhados. Começava novamente a ficar alterado comigo. Meus olhos logo se encheram de lágrima e da minha boca não saiu mais nenhuma palavra (era como eu ficava sempre que estava nervosa com alguma coisa, me trancava dentro de mim...). Victor continuava brigando comigo, se alterando mais ainda enquanto me xingava de todos os nomes possíveis, dizendo que eu estava “dando mole” para o carinha que estava dançando comigo.
- Victor, ele tem namorada! E ela tava lá com a gente! – foi a única coisa que consegui balbuciar.
- Quem é a corna? Porque ele estava praticamente te agarrado lá dentro! Pra ela ver isso e não falar nada só pode ser uma corna conformada! – ele continuava. Eu, na tentativa de afastá-lo dali do salão com medo e vergonha de que alguém do grupo visse aquilo, chamei Victor para ir embora assistir o filme e falei que em casa poderíamos conversar melhor sobre o que ele estava pensando de tudo aquilo. Victor concordou de sair dali, mas não para minha casa. – Você se divertiu, quero me divertir também! Vamos pra festa do Caio!
- Não Victor, nós já combinamos! Vamos pra casa, lá a gente conversa com mais privacidade! – eu tentava contornar a situação, mas ele era irredutível.
- Negativo! Se você preferir, podemos continuar conversando aqui, caso contrário, vamos à festa! – ele finalizou. Eu concordei com a cabeça, enxuguei as lágrimas e o acompanhei até a casa do amigo dele que não era muito longe dali.
No carro, a caminho da festa, ele só me provocava. Dizia que aquela noite ele iria se divertir como ninguém, que agora era a vez dele de brincar com minha cara, cheguei até a pensar em descer do carro, mas achei melhor não falar nada, não provocá-lo ainda mais, já havia visto as conseqüências de minhas provocações em brigas anteriores. Fiquei calada, até chegar à festa. Lá ele agiu como se nada estivesse acontecendo. Cumprimentava á todos, me beijava e me abraçava todo carinhoso. Enfim, na frente de todos, ele estava me tratando como uma princesa. Com a roupa que eu estava, todos já deduziam:
- Estava no treino, Letícia?!
- Sim, estava! – eu respondia toda sem jeito.
Victor conversava e sorria como se estivesse tudo bem, ficava impressionada com tamanha hipocrisia vinda de uma só pessoa. Ele era um verdadeiro dissimulado; bebeu, brincou, sorriu, conversou a noite toda, só ficava diferente quando alguém comentava algo sobre meu grupo de dança. Eu, claro, cai na onda dele, preferia assim a ter que agüentar uma noite de brigas; e era exatamente isto que aconteceria se fôssemos para casa. Mas já estava passando da hora e eu, muito cansada e sabendo que teria que acordar cedo, estava doida para ir embora dormir. O deixei bem à vontade para se distrair bastante com os amigos, pensava que assim, bêbado e cansado, ele não iria pensar em briga e que, ao invés disso, chegaria e logo pegaria no sono também. Ledo engano!
Quando já se passava das duas da madrugada decidi chamá-lo para ir embora, já que ele não se manifestava. Como estava na frente dos amigos dele, ele respondeu bem carinhoso:
- Não amor, vamos ficar mais um pouco! Daqui a pouco eu te levo em casa!
- Amor, vamos fazer assim: eu vou embora andando mesmo, minha casa é perto, não tem perigo! – falei, me aproveitando da presença dos amigos dele, sabendo que ele não esquentaria comigo na frente deles. Pura ingenuidade! Ele sempre sabia disfarçar, mas só na frente deles. Victor levantou da cadeira e pediu licença para o pessoal. Segurou minha mão e disse:
- Amor, vou ao banheiro! Vem comigo?! – perguntou quase mandando. Eu o acompanhei, pois não queria passar a vergonha de vê-lo discutir comigo na frente dos outros.
A festa acontecia no sobrado da casa que tinha três pavimentos. Lá em cima havia tudo que precisava para reunir as pessoas: banheiro, cozinha e o espaço coberto. No segundo pavimento estavam os quartos (que nestas festas sempre estavam sendo usados) e no primeiro ficava a sala, a cozinha pessoal da casa e um lavabo social para as visitas. Victor me levou até o primeiro pavimento, onde entrou no lavabo. Eu quis esperar do lado de fora, mas ele puxou minha mão segurando-a de forma tão forte que chegou a deixar meus dedos roxos.
- Eu vou te levar em casa! – ele falou calmamente. – Mas você não vai ficar lá, vamos só buscar sua roupa para você não faltar aula amanhã de manhã!
- Não Victor, eu não quero dormir na sua casa! – eu falei choramingando. – Por favor, vamos deixar nossa conversa para amanhã! Estou cansada, tenta compreender! – eu pedia tentando acordar o lado humano de Victor, mas era inútil. Eu me estourei e esqueci por um momento aquele jeito egoísta dele e resolvi me impor: - Victor, é sério agora! Eu vou embora, e sozinha! – eu falei empurrando-o e seguindo em direção a porta do lavabo. Victor me puxou pelo cabelo com apenas uma de suas mãos. Me virou de barriga para a parede e encostou meu rosto nela. Chegou bem perto, ainda me pressionando, e disse:
- Mais uma vez: você vai comigo! Está entendido? – ele falou puxando minha cabeça para trás através dos meus cabelos e apertando meu pescoço com a outra mão. Eu só fiz que sim com a cabeça, meus olhos novamente se encheram de lágrimas, mas por uma força maior, que não era exatamente a de Victor sobre mim, eu não conseguia me livrar dele e daquelas torturas que ele vinha praticando comigo.
Como ele havia ordenado, saímos os dois, como um casal de pombinhos, da festa do amigo dele. Sem nos dirigirmos mais a palavra um ao outro, fomos até a minha casa, onde eu peguei minhas coisas e depois seguimos para a casa de Victor. Ao chegarmos ele estacionou e desceu para fechar o portão. Eu, tensa, não desci do carro. Ele voltou, olhou pelo vidro do carro, eu nem me movimentava. Depois ele foi direto abrir a porta da casa, pegou algumas coisas que estavam na traseira do carro e entrou. Neste momento eu pensei em sair do carro direto para a rua e não esperar pelo que poderia vir se eu entrasse com ele naquela casa, porém, como já havia dito antes, a força que ele exercia sobre mim ia além da força bruta de um homem contra uma mulher. Ele conseguia me dominar sem ao menos estar por perto, bastava alguma lembrança, alguma coisa com o cheiro dele, alguma marca registrada para que eu sentisse sua presença tão viva quanto tudo e todos ao meu redor. Eu ali dentro do carro, perdida em meus pensamentos, mal percebi quando ele abriu a porta para que eu saísse.
- Desce! – ele falou em tom áspero. Eu obedeci. Sai do carro e entrei na casa de forma tão rápida que nem eu mesma senti o percurso que fiz. Entrei na cozinha, peguei uma garrafinha de água e caminhei direto para o quarto, onde tirei minha roupa e fui tomar banho. Victor sentou-se no sofá e ficou assistindo televisão. Quando eu terminei apenas olhei pela brecha da porta do quarto e vi Victor sentando no sofá com a cabeça completamente inclinada, respirei aliviada, ele parecia estar dormindo. Eu arrumei a cama, peguei alguns cobertores, pois fazia um pouquinho de frio, e depois me deitei. Como estava exausta, acabei cochilando.

Acordei depois de um tempo com Victor deslizando seus dedos pelo meu cóccix. Estava de costa, tentei me virar para vê-lo melhor, mas percebi que minhas mãos estavam amarradas por cordas que estavam presas na cabeceira da cama. Assustada, comecei a me debater. Victor sorriu e disse baixinho no meu ouvido:
- Não adianta meu anjo! Você não percebeu ainda? Está presa!


Continua...

2 comentários:

  1. Dedico este conto à uma querida leitora: Lia de Sonho, por seu dia! Desejo-te toda a felicidade do mundo!

    De: Letícia Yasmin, a Succubus `´

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  2. Adoro você amiga e sei que vou amar mais esse conto seu, os outros adorei e esse dedicado amim....Hummmmmmmm, já amei antes de ler, rsrsrs. Mil beijinhos azuis

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