sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Uma Música Brutal - Quinto Capítulo - Parte 1

A semana passou agitada e logo se aproximava o fim de semana. Eu já havia ligado para a faculdade a fim de tratar sobre a minha volta, uma turma iniciaria a matéria na próxima semana e, mesmo eu já tendo visto parte da matéria, poderia voltar a qualquer momento e pegar novamente as explicações desde o início, cortesia da escola por parte da Diretora que se sensibilizou com minha história. Com aquilo já era metade da minha vida retomada, faltava recuperar o estágio e retornar ao grupo de dança, mas esta última parte eu tentava adiar o quanto podia. Apesar de estar com muita vontade de voltar a dançar, o fato de ter que reencontrar Dérick era uma barreira que me fazia desistir da simples possibilidade. As conversas com Carlos me contando como o grupo estava evoluído me animavam bastante e sempre que ele falava de Dérick meu coração pulsava mais forte, mas não era tão simples assim uma reaproximação; eu não tinha medo de Dérick, eu tinha medo do reflexo de Victor que parecia ser evidente nele. E pensar naquilo, pensar que Dérick poderia um dia me tratar da mesma forma que seu irmão mais velho, pensar que mais cedo ou mais tarde ele faria as mesmas coisas que Victor fazia comigo... eu ficava tão angustiada só em imaginar, então eu preferia evitar, apenas guardava na memória aquele Dérick que eu conheci no grupo de dança.

Sexta-feira havia chegado e com ela aquela rotina que eram os finais de semana de Carlos. Ele estava no banho há quase uma hora, como sempre se arrumando para passar a noite, a madrugada e quem sabe até a manhã inteira fora de casa. Eu já havia me acostumado a isto e nem reclamava mais, apenas o avisava dos riscos que ele corria fazendo aquelas aventuras sexuais (um dia ele chegou ao apartamento com duas mulheres de uma só vez, eu, claro, pedi delicadamente que elas “se mandassem!”)

- O quê? Você “pediu”? Você simplesmente as expulsou daqui!!! – Carlos falou sorrindo, enquanto terminava de se arrumar no quarto. Eu estava arrumando algumas coisas na cozinha quando a campainha tocou.

- Claro! É isso que eu faço quando você traz pessoas desqualificadas pra dentro deste apartamento! – eu respondi saindo da cozinha para ir atender a porta. Carlos se apressou e, gesticulando, me fez perceber que ele queria abrir a porta. – É mais uma delas? – eu perguntei baixinho. – Estou na cozinha, mas de olho! – falei voltando para onde eu estava. Carlos abriu a porta e cumprimentou a pessoa que estava do outro lado, depois de uma pequena conversa ele adentrou a cozinha dizendo:

- Lê, você tem visita!

Quando eu virei para trás quase não consegui me segurar em minhas próprias pernas. Eu extremecia dos pés a cabeça, meu coração pulsava tão forte que parecia querer sair pela boca. Naquele momento eu senti um tremor no peito acompanhado de um friozinho gostoso na barriga, uma contradição de sentimentos. Ele, por sua vez, estava tão seguro de si, ainda tão sedutor e... como sempre... tão lindo...



- Dérick... – eu balbuciei quase sem voz.

- Bom, eu já estou atrasado! Se incomodaria em fazer companhia à Letícia enquanto isso?! – Carlos perguntou à Dérick sem ao menos se preocupar em perguntar antes à mim se eu queria de alguma companhia enquanto ele estivesse fora. Dérick, ainda firme e sério, fez que não com a cabeça. Eu me agitei preocupada, Carlos entendeu e, antes que eu chegasse mais perto da porta ele me abraçou dizendo ao meu ouvido: - Você conhece meu sexto sentido no que diz respeito às pessoas, não conhece? E sabe também que ele não estaria aqui se você não quisesse! Além do mais, ele já me deu provas o suficiente que só quer o seu bem; tente ouvir o que ele tem a dizer! Mesmo assim, caso não se sinta segura, eu estarei ali embaixo... – Carlos falou apontando para a janela. - ... naquele novo barzinho que abriu aqui na frente, conversando com uma amiga! Basta me chamar! – ele finalizou beijando minha testa e se retirando do apartamento sem que eu pudesse expor opinião alguma sobre aquilo.

- Ouvi dizer que você vai voltar para a faculdade?! – Dérick falou se aproximando, eu me virei em direção à cozinha e fui terminar de fazer o que estava fazendo, tratando-o com desdenho.

- Não posso parar minha vida! – eu respondi desinteressada.

- Faz bem! – Dérick falou com voz firme, ainda se aproximando.

Apesar de sentir um calor imenso espalhar pelo meu corpo a cada passo que ele dava em minha direção, eu ainda não confiava nele plenamente, não achava seguro ficar num lugar fechado, sozinha, ao lado de Dérick. Evitando encará-lo de frente e acabar novamente seduzida por aquele olhar dominante e aquela voz instigante, eu me virei e comecei a mexer na geladeira, apoiada na porta por uma de minhas mãos. Dérick chegou mais perto e nada disse, apenas senti sua respiração, tão ofegante quanto a minha, moverem a penugem fina de minha nuca me causando arrepios. Eu abaixei a cabeça, tentando me recuperar daquela sensação inebriante, mas ele começou a deslizar seus dedos pelo meu corpo, primeiro na nuca, depois acompanhando a linha central de minhas costas, até chegar perto do cóccix. Eu usava um pequeno top e um mini short jeans, o que tornava possível acompanhar minha coluna vertebral por cima da pele, mas o impedia de prosseguir depois do cóccix. Então senti a respiração de Dérick acompanhar meu ombro até o braço que estava apoiado na porta da geladeira. Ele novamente deslizou seus dedos em meu corpo, desta vez acompanhando meu braço até chegar ao meu pulso, que ainda retia as marcas das correntes que Victor usava para me prender.

- Psicopata! – ele sussurrou ressentido. Eu senti meu estômago queimar por dentro. “Psicopata!”... sim... Victor era um psicopata. E quem me garantia que Dérick também não era um?! Porque ele não me disse a verdade desde o início?! Porque esperou que eu descobrisse pela boca cruel de Victor?! Aquilo era imperdoável e um tanto amedrontador, pois ele estava ali agora, comigo. E sozinhos naquele apartamento eu não tinha garantia de nada. Tomada por toda aquela confusão que se formava em minha mente, eu tentava entender ao mesmo tempo que o culpava friamente pelos erros do irmão. Agora, como se não bastasse, eu podia jurar que via em Dérick todas as características que havia visto em Victor... e eu precisava tirar minhas conclusões...

- E você? – eu perguntei sobressaltada, virando-me em direção à Dérick. – E você, Dérick, o que é? Ou melhor, quem você é se não é o Derick que eu conheci naquele dia de seleção? O Dérick que havia me encantado apenas com algumas palavras? O Dérick em quem eu acreditava? Quem é você?

- Eu sou o mesmo Dérick que você conheceu, Letícia! Eu só não podia correr o risco de te perder sem nem ao menos ter tentado ter você! E, se eu dissesse que era irmão de Victor, era exatamente isto que iria acontecer! É o que está acontecendo agora, você nem ao menos quer me ouvir!

- A minha cabeça tá uma confusão! Você mentiu pra mim mesmo sabendo tudo o que eu estava passando! – Eu falei novamente virando as costas para ele. – E você me diz que não é como seu irmão?! Aposto que é mais uma de suas mentiras, um mal de família! Por isso eu não quero ouvir! – finalizei colocando as mãos na cabeça.


- Então não ouça, apenas sinta! – Dérick falou me agarrando por trás, passando seu braço pela altura do meu pescoço, como uma “chave de braço”, mas apertando brandamente. Com a outra mão ele segurou um de meus braços e o colocou para trás levando minha mão até o volume que estava formado por baixo de suas calças. – está sentindo isso? – ele falou me balançando. Fiz que sim com a cabeça. – É como você me deixa, Letícia!

Dérick beijou meu pescoço, deu uma mordidinha de leve na minha orelha, senti novamente minhas pernas vacilarem pela força dos apelos provocativos de Dérick. Nossa... como aquilo me excitava! Mas as duvidas sobre ele ainda eram maiores e naquele momento gritavam sufocando qualquer sentimento afetuoso que eu pudesse nutrir por ele. Percebendo meu desejo e, no entanto, minha hesitação, Dérick retirou o braço que me prendia e passeou com seus dedos pela abertura do top, contornando as curvas de meus seios. Depois ele puxou de uma só vez o top para baixo, fazendo com que meus seios ficassem expostos; enrusbeci na mesma hora, senti ele abafar uma risada em minha nuca, o amaldiçoei por conseguir me dominar daquela forma, sem mesmo precisar de palavras. Novamente um sorriso abafado; eu, irritada, tentei me mexer, mas senti seus dedos deslizarem sobre meu seio agora desnudo, uma conexão eletrizante, meu corpo era todo torpor, me denunciava e, por mais que eu tentasse, estava completamente subjugada à ele.

Eu sabia que não podia me permitir a tanto, mas sua voz, sua mão deslizando pelo meu corpo, me faziam entrar em desconexão com o mundo real. Lembrar que ele era irmão de Victor e pensar que mais cedo ou mais tarde ele podia se revelar um verdadeiro psicopata, até mais que o irmão, me fazia temer até por minha vida, por talvez estar me arriscando novamente. Mas eu não podia evitar, há tempos que meu corpo desejava a respiração dele, o suor de seu desejo, seus beijos. Era uma atração descomunal, e pelo que pude perceber, Dérick também sentia a mesma coisa. O que eu não tinha certeza era se essa atração não se tornaria uma obsessão, como se tornou a de Victor no decorrer de nosso relacionamento.

Dérick me virou de frente para ele, se aproximando da mesa. Nos encaramos por alguns minutos, talvez ele estivesse tentando me passar confiança, mas eu desviei o olhar, tentei evitar ser hipnotizada por seu charme e perder qualquer senso que ainda se manifestava em minha mente. Ele me encostou na mesa, empurrando meu corpo até que eu me sentasse sobre ela; depois empurrou minhas duas mãos para trás, de forma que eu caísse com meu corpo para trás e me apoiasse sobre elas, uma posição meio desconfortável, porém muito sexy. Ele me analisou, segurou meu queixo, alisou meu rosto, depois me deu um beijo. Era mais do que eu imaginava, senti meu corpo arder em chamas, minha pele desejar seu toque e minha bocetinha quase implorar para ser fodida por ele. Num impulso me joguei para frente, desfazendo o apoio que eu tinha nas mãos, o abracei, ele correspondeu, nossas bocas não se desgrudaram por um minuto sequer, minha língua procurava a sua com sofreguidão, nossos beijos eram insaciáveis e a cada toque queriam sempre mais. Eu tentei alcançar o feche de sua calça, mas quando fui abrir o zíper Dérick segurou minhas mãos com força. Eu me assustei e recuei. Ele me encarou de forma firme, sem sorrir desta vez, balançou a cabeça de forma negativa como se me repreendesse. Depois, puxando meu cabelo para trás, ele perguntou ao meu ouvido:

- Onde fica seu quarto?

Eu desconfiei naquele momento. Qual era o problema dele? Porque me levar para o quarto se podíamos não perder tempo e continuar ali mesmo. Dérick viu minha oscilação, segurou minhas mãos e disse:

- Eu sei que é difícil pra você, mas isso só vai dar certo quando começar a confiar em mim!

Então Dérick se afastou de mim e caminhou em direção a porta. Definitivamente ele não era como o irmão! Se fosse Victor, não sairia dali até que conseguisse o que queria. Ou talvez ele estivesse apenas tentando ganhar minha confiança. Mesmo assim, eu tinha que dar uma chance à ele, ou melhor, eu deveria dar aquela chance à mim mesma.

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