domingo, 4 de setembro de 2011

Uma Música Brutal - Terceiro Capítulo (parte 2)

Victor dirigiu por mais uns dez minutos e logo estavam no local desejado. Uma mansão fechada, aparentemente abandonada já que todas as janelas e/ou qualquer brecha que pudesse fazer vista para dentro estava tampada. Havia um porteiro na entrada, Victor falou algo com ele e pegou um cartão de identificação. Depois fez a volta pela parte de trás da mansão, onde havia uma entrada que dava para o subsolo. Entramos em uma garagem subterrânea, localizada mais precisamente no segundo subsolo da mansão. Victor estacionou em uma das pouquíssimas vagas que ainda estavam livres. “Casa cheia” – eu pensei.
- Então é aqui? – eu perguntei imaginando que era para lá que Victor ia quando dizia que estava ocupado em pleno final de semana. E ele costumava mentir quase sempre.
- É sim! Desce! – Victor falou segurando minha mão. Depois fitou-me por alguns segundos e finalizou: - Você está linda! Só está faltando uma coisa! – ele falou caminhando até o porta-malas do carro. De lá Victor retirou a maleta que sempre estava com ele no carro. Abrindo a maleta ele retirou uma coleira de couro com uma corrente na guia. Fiquei surpresa ao ler meu apelido na coleira seguido pela inicial do nome de Victor: {Lê}-V.
- O que é isso? – eu questionei.
- Quero que use isto por esta noite! – ele falou se aproximando e abrindo a coleira levando-a em direção ao meu pescoço. Eu recuei.
- Porque eu usaria isto? Está maluco? – falei empurrando a coleira.
- Vamos, Lê! Não vai querer me envergonhar na frente de meus amigos! – ele falou trazendo novamente a coleira. Eu me afastei impedindo-o de fechar a coleira em meu pescoço.
- Você é quem está querendo me envergonhar! Onde já se viu?! Quem usa coleira é cachorro! Deve estar de brincadeira comigo, só pode!
- Lê, você só vai poder entrar se estiver usando isto!
- Ah é, e você? Vai usar o quê para entrar?
- Você! Vou usar você! – ele falou na maior naturalidade. Eu achei um desaforo, então comecei a questioná-lo ainda mais.


- Não é tão simples assim não! – eu falei já esquentada. – Que tipo de gente freqüenta este lugar que eu só posso entrar se for com esta coleira, hein? Tem alguma explicação pra isso, senhor Victor?!
- Letícia, nós estamos perdendo tempo aqui! – ele falou nervoso. – Deixe colocar logo esta coleira em você! Não entendo porque não quer usar, está tão linda! Mandei escrever seu apelido com cristais e você ignora meu presente desta forma!? Deixe-me colocá-la em você! É um presente! – ele falava irritado.


- É um presente para um cachorro e eu não sou um! Joga fora porque eu nunca vou usar isto! – falei extremamente chateada. Victor teve uma péssima reação ao ouvir tais palavras saírem de minha boca. Ele se irritou ainda mais e, sem pensar direito, acertou vários tapas em meu rosto. Eu fiquei tonta na hora e caí sentada no chão daquela garagem. Victor veio por trás, agarrou meus cabelos e colocou a coleira de forma brusca deixando-a bem apertada em meu pescoço. Depois ele saiu de cima de mim e segurou a corrente que estava prendendo a coleira. Eu levantei na hora, ainda assustada, me debatendo, tentando achar o feche para tirar a coleira, mas Victor puxou a corrente com uma força descomunal. Eu caí, ele foi me puxando, e eu, sem consegui levantar, tive meu rosto arrastado no chão impiedosamente. Pouco antes de chegarmos até a rampa que dava acesso a parte social da mansão, Victor parou e mandou eu me recompor.
- Limpe seu rosto, está sangrando! – ele mandou. Eu obedeci. Ele chegou bem perto e segurou meus cabelos com uma de suas mãos e com a outra segurou meu rosto secando algumas gotículas de sangue que escorriam dos arranhões provocados pelo contato do meu rosto com o chão de concreto poroso. – Minha garotinha, você sabe do que sou capaz! Não me provoque! Quero te apresentar para algumas pessoas, alguns amigos! – ele falou. “e você tem amigos???” eu pensei. – Comporte-se! Quem sabe acharemos seu amigo por aqui hoje!
- Dérick? – perguntei duvidosa.
- Sim, querida! Dérick! Mas aqui creio que seja o Mestre D.!
Entrei na mansão curiosa, querendo saber que lugar era aquele freqüentado por meu namorado e, por uma coincidência do destino, freqüentado também por Dérick. Victor seguia na frente, me puxando pela coleira como se eu fosse seu cachorrinho. Curiosos acompanhavam nossos passos até chegarmos a uma mesa onde estavam alguns homens com roupas que variavam entre látex, couro e outro parecido com vinil. Seria até possível descrever o local, mas minha vergonha era tanta que era impossível movimentar meu rosto para outra posição que não fosse o olhar fixo no chão. Só pude observar melhor quando Victor se sentou ao lado daqueles homens que já havia descrito anteriormente. Ele não foi educado me oferecendo cadeira para que eu me sentasse, ele apenas me empurrou para o chão, onde eu permaneci sem questionar.
Pelo que percebi, aquele lugar era uma espécie de boate, muito escura por dentro e com luzes neon espalhadas por locais estratégicos. Os corredores pareciam caminhos sem volta, e as paredes recheadas de correntes, argolas e chicotes espalhados por todos os lados faziam do lugar um verdadeiro dungeon. Victor conversava algumas coisas das quais eu nem fiz questão de prestar atenção com os homens que estavam sentados em volta da mesa. Victor só pareceu lembrar que eu estava lá quando um daqueles homens entregou a ele uma garrafa de água mineral dizendo:
- Ela deve estar com sede!
Victor então pegou a garrafinha e se levantou me levando junto. Encostamos em uma parede, ele abriu a garrafinha e levou em minha direção. Ergui a mão para segurá-la, mas ele puxou minha mão.
- Não faça nada sem que eu tenha permitido! Eu sabia que ainda não estava na hora de trazer você aqui, não sei porque diabos eu fui pensar que poderia estar preparada! – ele falou irritado.
- Me leva embora, por favor... – eu sussurrei com medo, lembrando do que ele havia dito antes de entrarmos: “comporte-se”. Eu havia entendido o recado, ainda assim tentei fazê-lo recuperar a lucidez, ou a estupidez de sempre, mas ele parecia estar em outro mundo agora. Ele estava me ignorando, esta era a verdade. De propósito, talvez. Ficamos ali por um tempo, fingindo ser um casal, até que dois homens se aproximaram. Como eu estava de cabeça baixa não percebi quem era de cara, só fui saber quando ouvi aquela doce voz alertando Victor.
- Está apertada demais! – Dérick falou. Por um momento não sabia onde enfiar a cara. E nem tinha onde, estávamos cercados por todos os lados. Victor fez que não entendeu, então o outro homem que estava ao lado de Dérick complementou:
- A coleira, está apertada!
- Ela agüenta! – Victor respondeu por mim.
- Não é questão de agüentar, é questão de segurança! Está apertada! Afrouxe! – falou o homem com voz de superior. Inexplicavelmente, ao invés de brigar com o homem como ele faria em qualquer outra ocasião com qualquer outra pessoa que ousasse dar alguma opinião sobre a forma ou o tom com o qual ele deveria me tratar, Victor apenas afrouxou a coleira. Depois disse ao meu ouvido:
- Este é o dono da festa e aparentemente é amigo de seu mais novo coleguinha de dança, para sua sorte! Ou não... – ele complementou sem que os outros dois ouvissem. Eu estremeci por dentro. O “ou não” soou mais evidente do que a primeira frase. Senti-me completamente impotente aos olhos dos três, que me examinavam como cientistas examinam sua cobaia. Dérick, apesar de ter me dado à primeira vista a impressão de um “bom rapaz”, agora me parecia outra pessoa. Eu realmente não sabia em quem podia confiar ali dentro daquela mansão. Ele me fitava, mas não sem conseguir escapar dos olhos fulminantes de Victor, que o encarava como um próximo alvo a ser derrubado. Uma pedra em seu caminho.
- Então Letícia é sua submissa? – Dérick especulou. – Ou sua escrava? – ele continuou. – Aliás, ela pelo menos sabe o que isto significa? ´- ele finalizou provocando Victor e chamando a atenção do outro homem chamado de Mestre Enzo.
- Ela sabe o que está fazendo aqui? – perguntou Mestre Enzo à Victor.
- Sim, sabe! – Victor respondeu tentando se esquivar deles e me levar para o outro lado do clube, mas Dérick se colocou no meio.
- Letícia, você sabe o que está fazendo aqui? – Dérick me perguntou. Eu esquivei o olhar.
- Eu o proíbo de falar com minha propriedade! – Victor respondeu.
- Ah sim, agora ela é sua propriedade? – Dérick falou enfrentando Victor.
- Está quebrando o protocolo, Mestre D.! Não deve se dirigir à uma submissa sem que seu Dono permita! – Enzo falou puxando Dérick, mas ele não se intimidou.
- Protocolo? Vamos falar de protocolo! Em primeiro lugar ela nem queria estar aqui, Mestre Enzo! Esta não é uma relação consensual! – Dérick acusou. Eu tentei não chorar, mas as lágrimas simplesmente brotavam dos meus olhos. Victor me encarava enfurecido. Dérick voltou a me fitar, dizendo: - Você não tem que estar aqui se não for da sua vontade! Basta que você diga isto! – ele falava de forma afetuosa, esperando que eu acabasse com aquilo, mas Victor apertou meu braço na mesma hora me fazendo lembrar as conseqüências se eu ousasse enfrentá-lo, então eu abaixei a cabeça. Victor sorriu vitorioso.
- Viu! – ele falou dando a entender que Dérick não podia fazer nada quanto aquilo.
- Vi sim! Vi a repressão que está impondo a ela! Qualquer um pode ver, você a está acuando, a reprimindo! Veja Mestre Enzo, como ela está assustada! – Dérick falou apontando para meu rosto que já estava coberto por lágrimas e com uma feição de pura tristeza, e então continuou: - Ela está aqui sobre pressão, e nós, como sérios membros deste clube, não podemos permitir que ela continue aqui desta forma!
- Sinto muito, Victor, mas vou ter que solicitar que se retire deste recinto... e de forma definitiva! Os motivos são claros, está burlando as regras desta casa! Dérick esteve certo todo este tempo, você de longe é um dominador! Suas práticas não condizem com as práticas do BDSM e nada do que você faça segue as nossas principais regras! – Mestre Enzo falou de forma severa, mostrando a Victor a porta de saída.
- Não é do meu interesse permanecer neste local cheio de regras tolas! Eu faço meu próprio caminho! – ele falou se retirando e puxando a coleira para que eu fosse junto. Comecei a entrar em desespero, pois eu sabia que estava mais segura ali dentro daquela casa, que antes me havia parecido perturbadora, do que nas mãos de Victor. Olhei para Dérick trepidante quase que implorando sua ajuda, então ele correspondeu se colocando na frente de Victor.
- Ela não vai com você! – Dérick falou de forma firme e decidida.
- Novamente tentando atrapalhar meus objetivos! Mesmo depois de tudo que o ensinei, meu querido irmão caçula, você ainda se acha mais esperto que eu?! – Victor falou revelando uma verdade intrigante sobre ele e Dérick. Eu encarei Dérick, chocada com as últimas palavras de Victor, querendo ouvir dele que aquilo tudo era mentira. Que ele e Victor não eram irmãos, e que, principalmente, ele não havia aprendido nada com Victor. Mas Dérick me olhou entristecido, pela primeira vez eu via aquela expressão em seu rosto, parecia uma realidade amarga, mas realidade.

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