domingo, 4 de setembro de 2011

Uma Música Brutal - Terceiro Capítulo (parte 1)

- Letícia! – ele falou segurando minha mão e beijando. Me senti sem chão na mesma hora, sabia que Victor não perdoaria tal ato. Mas, para minha surpresa, Victor não reagiu apesar de ter demonstrado que era o que mais queria fazer naquele momento, ele apenas segurou um suspiro. Dérick se virou para Victor e apertou a mão dele como se já se conhecessem há bastante tempo. – Victor! Ou melhor, “Mestre Victor”! – Dérick falou enquanto apertava a mão de Victor, deixando-o constrangido.
- Vocês já se conhecem? – eu perguntei sem entender.

- Já s... – Dérick ia falar, mas foi interrompido por Victor.
- Devemos ter nos visto alguma vez, mas eu não me lembro de onde nos conhecemos! Vamos Letícia! – ele falou me pegando pelo braço.
- Mas eu tenho que fazer o aquecimento, Victor! – eu falei, mas ele não deu atenção e continuou me puxando. Olhei para o rosto de Dérick envergonhada, mas ele, de uma forma muito estranha, parecia ter entendido aquela situação constrangedora. Pior, parecia até que já esperava por isto.
- Quando este cara entrou no grupo? – Victor perguntou.
- No dia da seleção que fizemos! – eu respondi de forma natural.

- Ele também foi para a tal lanchonete comemorar com vocês? – Victor perguntou, eu senti que não deveria ser verdadeira, não naquele momento. Poderia ter conseqüências. Então, alimentada pelo medo incontrolável que eu ainda sentia dele apenas respondi:


- Não, ele não foi!
- Melhor assim!
- Mas porque tanta pergunta sobre ele? Eu senti que vocês já se conheciam de algum lugar, estou certa? Diga Victor, vocês pareciam já se conhecer! Diga se foi impressão minha! – eu perguntei realmente querendo saber.
- Porque está interessada em saber? – ele perguntou, voltando a curiosidade para a cabeça dele.
- Bom, porque... porque... porque ele não parece o tipo de pessoa que freqüenta os mesmos lugares que você! – eu respondi tocando num assunto sobre o qual eu mesma evitara falar durante muito tempo. – Ou você acha mesmo que eu sou tão cega e inocente assim pra não perceber que você anda se ausentando durante as noites?! – eu falei enfrentando Victor e já esperando o pior.
- Você tem provas? – ele perguntou com a cara mais lavada do mundo.
- Não, eu não tenho!
- Então não fale sobre o que você não sabe! – ele disse. – Sabe, existem lugares em que se a mulher levantar um falso deste contra o marido e não tiver provas ela é condenada a receber 80 chibatadas em público. Tenho certeza de que se estivesse em um destes lugares você jamais diria o que acabou de dizer sobre mim! – ele falou com um sorriso sarcástico no canto da boca.

- Mas nós não estamos em nenhum destes lugares e nem somos casados! – eu falei retirando a aliança do meu dedo e entregando à Victor que a segurou com força como se tentasse controlar a raiva. Eu o deixei lá no meio da festa, com os amigos dele, e depois fui encontrar o pessoal do grupo que ainda repassavam algumas últimas observações sobre a apresentação. Tive tempo de pegar esta última parte.
Mesmo com a casa cheia, eu continuava um tanto preocupada com a apresentação que faríamos. Eu e Dérick dançaríamos juntos, como um casal, e seria a primeira vez que Victor veria aquela apresentação. Levando em consideração a reação dele ao ver Dérick dentro daquela sala, eu podia esperar uma reação muito pior quando ele visse nossa apresentação. Porém, como profissional, encarei e fui em frente, afinal, no meio de tantas pessoas, ele não poderia fazer nada.

Com tudo pronto, no meio da festa, lá estávamos nós fazendo nossa apresentação ao som de “Love Sex and Magic – Ciara e Justin. Eu, ainda tensa por Victor me ver dançando pela primeira vez ao lado de Dérick, com quem eu fazia par, tentava avistá-lo no meio dos convidados. Ao final todos aplaudiram, ficamos super empolgados com a aceitação do público que ali se encontrava. Novamente procurei em volta, mas não vi Victor. Também não importava, não depois do abraço apertado de comemoração que recebi de Dérick. Chegou a ser uma noite tão mágica que nem me dei ao trabalho de procurar Victor pela festa, mas apesar da despreocupação com ele, resolvi ir embora mais cedo. Dérick, sempre atencioso, se ofereceu para me levar em casa.
- Obrigada, Dérick, mas acho melhor seguir sozinha! Victor deve estar pelo caminho, ele sempre faz isto! – eu falei já acostumada aos caprichos de meu namorado.
- Se você o conhece tão bem, porque ainda continua com ele? – Dérick perguntou me fazendo enrubescer. Eu, por todo este tempo, jurava que conseguira disfarçar de todos, com exceção de Carlos, as covardias que Victor vinha fazendo comigo. Achava quase impossível que Dérick soubesse de alguma coisa. Será que ele me conhecia tão bem assim, ou será que ele conhecia a Victor melhor do que eu?! Independente da resposta e da desconfiança que agora cruzava nossos caminhos, eu continuei decidida a seguir sozinha. Dérick consentiu, sabendo que não podia fazer mais nada para que eu mudasse de idéia. Ele apenas pediu que eu eu o deixasse me observar enquanto eu seguia, afinal, podia ser perigoso. Carlos, que não pôde ficar por muito tempo, me deixou aos cuidados de Dérick, que tentou cumprir em vão a promessa que fez a ele de não me deixar ir embora sozinha.
Eu parecia conhecer Victor de cima abaixo e invertendo os lados. Ele realmente não havia ido embora, estava na esquina da rua onde a festa acontecia, conversando com alguns amigos. Quando me viu passar por eles nem falou nada, parecia não me conhecer. Eu o olhei como quem dizia: “Estou aqui, sozinha! Não era isto que você queria?!”, mas ele nem esboçou reação alguma. Eu então segui meu caminho, morrendo de raiva: primeiro porque havia dispensado uma carona até em casa, segundo porque havia ido com ele, então deixei o meu carro em casa. – Nunca mais dependo de carona! Meu carro vai começar a sair da garagem agora! – eu resmunguei. De repente eu senti uma cutucada na minha cintura, me virei assustada para ver quem era.
- Victor?! – eu falei desejando que fosse outra pessoa. - Não ia ficar com seus amigos?! – eu perguntei voltando a caminhar.
- Depois da vergonha que me fez passar hoje dançando daquele jeito com outro cara, eu deveria mesmo! Mas estou aqui. – ele respondeu fazendo careta. - Está decepcionada por ser eu? – Victor perguntou com um sorriso malicioso ainda seguindo-me.
- Não faz diferença! – eu respondi desinteressada. Ele puxou meu braço e falou:
- Não achou que eu deixaria você andar por estas ruas perigosas sozinhas, não é? Pode ter muito psicopata caminhando por aqui uma hora dessas! Vem, meu carro tá estacionado na rua de baixo! – ele falou me puxando. Eu o acompanhei, não seria louca em prosseguir sozinha, afinal ele estava certo: aquela rua era super perigosa. No caminho Victor atendeu a um telefonema, falou baixinho além de ter aumentado o som do carro. Ouvi apenas algumas palavras desconexas: “club”, “SM” e “vou”. A última palavra antes que ele desligasse o telefone me chamou mais a atenção.
- Ainda vai sair hoje? – eu perguntei curiosa.
- Vamos, querida! Vamos!
- Para onde vamos? – eu quis saber.
- Lembra que perguntou se eu conhecia Dérick?
- Sim, lembro!
- Pois bem, eu já o conhecia sim!
- Hahá! Eu sabia! – falei sentindo-me vitoriosa. Mas depois me veio um lapso de curiosidade, então perguntei: - Mas de onde se conhecem?
- De um clube! – ele respondeu.
- Um clube?
- Sim, um clube! Um clube BDSM! – ele finalizou. Desentendida, eu perguntei:
- Clube BDSM, o que significa?
- Você verá! – ele falou tocando o carro para outro caminho. Victor passou por algumas ruas desertas, escuras. Passou por várias curvas fazendo o caminho parecer mais um grande labirinto.
- Vamos chegar hoje ainda? – ela perguntou de forma debochada. Victor esboçou um ligeiro sorriso, mas depois pensou que talvez pudesse estar perdido. Sua preocupação foi embora quando pelo caminho avistou a pequena cabana que fazia caminho para o local onde estavam indo.
- Estamos chegando! – ele falou, desta vez sério.

















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