sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Uma Música Brutal - Sétimo Capítulo - Parte 1

Ao permanecer no carro, eu havia selado com Dérick o compromisso de não ter mais dúvidas nem ponderações para com ele, e me mantive fiel a isto, porém eu não deixava de observar por onde ele seguia com o carro. Via Dérick cortando as curvas, entrando em caminhos de terra, passando por entre árvores sombrias e tudo o que eu repetia para mim mesma era que eu deveria manter o compromisso que havia selado e não andar para trás justo quando estávamos começando a dar certo. Porém, quanto mais eu via Dérick se aproximar de nosso destino, mais eu ficava tensa; nosso destino era certo: estávamos indo para o mesmo lugar onde Victor havia me levado antes, o tal clube BDSM. Aquela certeza me fez perder toda a atenção que eu tentava manter em mim e Dérick. Eu comecei a ficar trêmula dos pés a cabeça. Senti minha garganta seca e o ar cortar meus pulmões a cada inspiração. As minhas mãos suavam compulsivamente e eu sentia tonturas. Dérick viu que eu não podia prosseguir, fez meia volta no carro, estava absolutamente mudo.

Ele fazia o caminho de volta enquanto me olhava a todo momento, com aquele ar de preocupação em seu rosto. Enquanto nos afastávamos eu sentia as sensações passarem, estava voltando ao normal. Eu me odiei pela minha fraqueza, pensava comigo mesma: “Isto foi extremamente sexy! Sua idiota! Acabou de estragar uma noite perfeita ao lado dele, está satisfeita?!”. A falta de diálogo após o incidente foi impactante, fez eu me sentir péssima perante algo que eu não poderia ter evitado. Eu ia me defender sem nem mesmo ter sido acusada de nada, queria falar a Dérick que não fiz por mal, que eu realmente desejava estar com ele, mas não conseguiria ficar naquele lugar. Mas antes que eu pudesse falar alguma coisa Dérick estacionou o carro, estávamos no meio do nada. Ele continuava com aquele ar de preocupado, olhava para o horizonte, por alguns minutos não deu nenhuma palavra. Eu olhava pela janela, mordendo minha unha com o dedo praticamente enfiado em minha boca. Não podia imaginar o que ele estava pensando, mas eu me sentia constrangida com todo aquele silêncio.

- Está melhor agora? – Dérick perguntou. Eu balancei a cabeça em forma afirmativa.

- Dérick, eu não quis estragar nossa noite... – eu tentei me defender, mas Dérick me cortou dizendo:


- Não se preocupe Letícia, eu sei exatamente o que aconteceu! – ele falou fazendo carinho em meu rosto. – Você teve um “Ataque de Pânico”!

- “Ataque de Pânico”?! Deve ter sido mesmo! – eu falei lembrando que já havia ouvido falar sobre isto antes, mas não me ative a isso, continuei preocupada em ter acabado com a noite. – Quero que você saiba que eu teria ido até o fim, se não fosse...

- Se não fossem as lembranças que ainda têm da época em que estava com Victor, não é isso?!

- Sinto muito!

- Não, linda, quem tem que sentir muito é ele! Você não tem culpa! E, como eu havia dito antes, você não tem que estar lá se não quiser, nem com Victor, nem com ninguém! – ele falou chegando bem perto. Eu desejei meus lábios naquela boca sexy de Dérick. O zelo que ele demonstrava ao falar comigo me passava certa segurança, algo que eu nunca tive ao lado de Victor. Dérick também era um dominador, mas era acima de tudo humano e um anjo protetor em minha vida. Seu jeito ao mesmo tempo sério e irreverente, e a sutil dominação que ele já exercia em mim, o tornavam, aos meus olhos, um homem incrivelmente sedutor. Dérick acariciou meu rosto, então eu consternei. Não estava correspondendo a todo aquele afeto, estava agindo como uma covarde. Eu não queria parecer uma covarde na frente dele.

- Vamos tentar de novo? – eu murmurei. Ele ajeitou-se para me olhar.

- Tem certeza?

- Sim! – eu respondi. Ele tocou meu rosto, me deu um beijo terno e depois virou o carro, seguindo em direção ao clube.

Chegamos ao clube em alguns minutos. Para minha surpresa o local estava vazio, todas as vagas do estacionamento estavam desocupadas. Havia apenas um carro no port cochère da casa. Dérick estacionou logo à frente deste carro. Subimos as escadarias que levavam a entrada principal, Dérick sempre a frente, eu o seguia. Ele deu duas batidas compassadas na porta e em pouco tempo ela estava sendo aberta por Enzo, nosso anfitrião.

- Dérick, como vai? Vamos, entre! – ele falou amigavelmente.

- Melhor impossível! – Dérick confessou. – Deve se lembrar de Letícia?! – ele falou apontando para mim. Eu dei um sorriso tímido e não esperei que Enzo me reconhecesse, afinal, só havia me visto por uma só vez. Mas ele, sempre atencioso, cumprimentou-me dizendo:

- Claro que me lembro! Mas não esperava vê-la por aqui tão cedo! – ele sorriu. – Mas creio que ela tenha tido ótimos motivos para superar os anseios! – ele falou virando-se para Dérick.

- Estamos caminhando para isto! – Dérick retribuiu o sorriso e olhou-me como se estivesse me admirando. Depois ele me pediu licença e se retirou por um momento com Enzo.

Fiquei ali observando aquele lugar, muito bonito por sinal. Cheguei a me questionar onde ficava aquele local escuro e sombrio por onde eu e Victor entramos quando visitei a mansão pela primeira vez, pois aquele lindo salão principal repleto de decorações ao estilo vitoriano era digno de um cômodo da realeza. Depois de algum tempo conversando com Enzo, Dérick veio me chamar. Eu o acompanhei até chegarmos a um dos aposentos da mansão. Era um quarto duplo standard com vista para o jardim e casa de banho privada, ambos também de estilo vitoriano. Móveis muito bem conservados, porém, que pareciam ter vindo de um verdadeiro antiquário. Havia uma cama king-size, com dossel, localizada ao centro do quarto, onde me sentei e retirei o vestido de couro que estava em minha mochila. Dérick abriu um sorriso de canto quando viu a peça, mas pediu que eu não a vestisse naquele momento.

- Antes quero que veja uma coisa! – ele falou estendendo um documento de poucas páginas.

- O que é isto?

- É um contrato básico. Procurei a princípio descrever algumas das nossas práticas para seu conhecimento. Quero que leia com atenção, considere as disposições contidas neste contrato e depois decida se quer o assinar ou não! Estarei aguardando lá fora! Toque a campainha quando tiver terminado! – Dérick falou firmemente, se retirando após o discurso.

Passei quase uma hora analisando aquele contrato. Era pequeno, de fácil compreensão, na verdade o li em menos de 10 minutos. O resto do tempo eu levei considerando todas as regras, práticas e condições contidas ali. Algumas coisas me assustaram, fizeram-me lembrar da época em que eu estava com Victor. Mas foi muito reconfortante ler que tudo aquilo que seria “experimentado” deveria ser feito dentro das normas principais do BDSM, conhecidas pela sigla SSC (São, Seguro e CONSENSUAL). Algumas das praticas ali descritas eu jamais faria, mas constavam ali apenas para conhecimento e não significava dizer que eu, ao assinar o contrato, estaria me comprometendo a realizá-las. Enfim, minha última dúvida era se eu conseguiria prosseguir com tudo aquilo sem lembrar constantemente das agressões que eu sofria por parte de Victor. Acabei assinando o contrato tendo apenas uma certeza em minha mente: Dérick não era como Victor! Definitivamente não!

Antes de tocar a campainha, resolvi vestir-me a caráter para a noite que viria. Meia 7/8, a lingerie que eu já vestia por baixo da roupa de dança, e por cima de toda a produção um sensual micro vestido de couro. Retoquei a maquiagem no espelho e soltei meus cabelos, deixando-os escorrer rebeldes por minhas costas. Toquei a campainha e sentei na cama, esperando por ele. Foi encantador ver aqueles lindos olhos verdes ganharem um brilho pretensioso quando me avistaram sentada naquela cama vestindo aqueles trajes suntuosos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Se você gostou ou tem uma crítica a fazer, comente aqui! ;)