domingo, 11 de dezembro de 2011

Uma Música Brutal - Décimo Primeiro Capítulo

Acordei na madrugada devido ao pesadelo e também com um barulho que vinha do interior do apartamento. Risadas, cochichos... Carlos estava de volta! Examinei o relógio de cabeceira, marcavam cinco e meia da manhã. Eu até que havia dormido bem afinal.

Levantei, vesti o baby-doll e fui até o banheiro lavar o rosto. Faziam alguns dias que estes pesadelos me atormentavam. Novamente a mesma cena de Victor me perseguindo e eu perseguindo Dérick. Soava estranho, mas eu me preocupava em não pensar muito sobre o sonho. Talvez eu estivesse mesmo grávida. Mulheres neste estado costumam ter pesadelos... ou não?

Olhei para a minha cama, Dérick dormia como um anjo. Um anjo dominador, talvez o arcanjo Miguel. O simples pensamento me fez fantasiar com Dérick vestido como um anjo, um guerreiro, o próprio arcanjo Miguel. Eu nunca havia visto um anjo antes, mas eles certamente deveriam ser parecidos com Dérick.

Perdida entre estes pensamentos, acabei chegando bem perto de Dérick. Os barulhos fora do quarto ainda não haviam cessado. Ouvia Carlos, ouvia Samantha e ouvia também uma terceira voz, feminina. “Céus! Carlos não se cansava nunca?”, eu refletia. Mas meus pensamentos foram interrompidos pelo relampejo irradiante dos olhos castanhos de Dérick me fitando. Eu recuei, tímida, arrancando um sorriso límpido de Dérick.

- Eu estava... – “te contemplando?”, claro, não terminei a frase, mas Déric parecia ler meus pensamentos.

- Não se preocupe com isso, bebê. Eu costumo ficar tão perdido quanto a lucidez de um homem que vaga sozinho pelo deserto quando paro para contemplar sua beleza! Venha até aqui! – ele falou batendo de leve na cama, ao lado dele. Eu deslizei apenas para me sentir, em poucos segundos, acolhida em seus braços. – Outro pesadelo?

- Estão cada vez mais freqüentes... – eu refleti. Ele friccionou os lábios, uma fúria invadiu seu ser, afastando sua paz. Mas ele se controlou e calmamente disse:

- Enquanto eu estiver aqui, independente de estar ao seu lado ou não, eu prometo que ele nunca mais lhe fará mal algum. Nem que para isso eu tenha que... – vi fúria em seu olhar, me encolhi como um bichano assustado, ele retrocedeu perante minha fragilidade. Acariciou meu rosto e beijou-me lentamente, tomando meus lábios de forma possessiva, mas carinhosa. – Não me encare assim, meu amor. Eu não poderia suportar a idéia de que também lhe causo medo! O único medo que quero que sinta é o de não saber qual será o próximo limite prazeroso que testarei em você. Nada mais que isso! Minha fúria não tem a ver com você, ela é fruto dos péssimos hábitos de meu irmão. Apenas isso! – ele falava me aconchegando em seus braços, querendo me proteger quase que do mundo inteiro. E eu sentia sua proteção, e me sentia bem por isso.

- Eu não estou com medo de você... – falei me apoiando em seu peito.


- Isso é bom, bebê. Isso é muito bom!

*****
Tanto eu quanto Dérick não conseguimos dormir direito naquela noite. O dia mal começava a se abrir e nós dois já estávamos de pé. Nós dois inquietos, mas não discutimos sobre o que nos deixava assim, até que Dérick começou.

- Letícia, eu prezo pela confiança que temos um com o outro. A nossa sinceridade, desde sempre. Mas agora não estamos sendo sinceros. Percebo que também está inquieta. Há algo me deixando aflito, e percebo que esse sentimento é mútuo! – ele me fitava com toda a calma que conseguia ter, apesar de estar falhando um pouco nesta tentativa. – Droga, Lê! Não quero que se sinta pressionada. Mas eu preciso saber se há ou não um bebê dentro de você! – um alívio percorreu todo o meu corpo, causando arrepios como rastro. Era exatamente nisto que eu estava pensando.

- Mas eu pensei que o faria sentir-se pressionado! – eu falei revelando uma confusão interior. – Tudo o que mais quero é saber se estou ou não grávida! Preciso dessa confirmação para saber o que terei que enfrentar... se terei que enfrentar algo. Esta confirmação talvez possa responder muitas outras... – eu refleti.

- Quando foi seu último período fértil, é o que você quer dizer?

- Sei que não quer fazer exame de DNA, mas eu preciso saber quem é o pai do meu filho, Dérick. Eu só... preciso saber! – falei entristecida. Sabia que aquele assunto poderia ser demais para nosso relacionamento, mas eu não podia deixar de tocar nele. Era um direito meu, era um direito de Dérick e, principalmente, era um direito da criança que possivelmente eu estaria esperando... saber quem é o pai.

- Eu entendo seu sentimento. Me parece justo. Eu definitivamente não posso impedi-la de ter essa confirmação em breve... – Dérick considerou mais consigo mesmo. Talvez tentasse aceitar e se preparar para ter um resultado não muito satisfatório quando fizéssemos o exame de DNA. – Vamos ao laboratório?!

- Sim, vamos! – eu falei me arrumando.

Passamos pelo quarto de Carlos, trancado. Samantha certamente estaria lá, com a outra mulher, a propósito. Caminhamos lentamente até a sala, não queríamos acordá-los. Mas ao chegarmos na sala percebemos uma mulher deitada, o controle da televisão ainda na mão, mas ela dormia. Aparentava ter seus vinte e poucos anos, eu chutaria uns vinte e três, no máximo, considerando que as mulheres atuais estão cada vez menos aparentando a idade que têm. Ela lembrava um pouco a Samantha, com seus cabelos em cachos abertos, longos e negros; os de Samantha eram castanhos claros. Dérick foi até a cozinha preparar algo para tomar; ele, não eu, pois faria exame logo mais. Eu fiquei e tentei recuperar o controle da televisão das mãos da tal moça que estava no sofá, mas ela se mexeu. Eu insistia em tentativas fracassadas. Dérick voltou da cozinha com uma xícara de capuccino em suas mãos. Aquele cheirinho era delicioso e eu quis um pouco.

- Não sua impaciente! Farei quantos capuccinos você quiser tomar, mas só quando voltarmos! – Dérick finalizou, sorrindo e me provocando passeando com a xícara de capuccino na minha frente.

- Bastardo! – eu xinguei. Ele fechou o semblante delicado, dando lugar a um olhar frio e implacável.

- Do que me chamou? – ele perguntou franzindo o cenho.

- Nada... desculpa... err... estamos atrasados! – eu falei tentando fugir do assunto. Dérick delicadamente apoiou a xícara sobre a mesa, aproximou-se de mim, seu tamanho parecia ter aumentado em metros perante tamanha segurança que tinha sobre si mesmo. Ele agarrou meu punho e me puxou para perto dele. – Estamos atrasados... – eu balbuciei sentindo-me um cristalzinho perto de ser quebrado pelas mãos de um gigante.

- Sua sorte é termos assuntos prioritários para resolvermos, caso contrário... – Dérick sussurrou dando um forte tapa em minha bundinha. O som ecoou e fez com que a pequena moça que estava deitada no sofá se levantasse rapidamente, tentando recompor-se do sono de princesa que estava tendo naquele sofá tão macio.

- Oh, Dérick. Veja o que fez! Você a despertou! – eu falei sentindo-me uma péssima anfitriã.

- Prazer, sou Suzy. Prima de Samantha! – ela falou sorrindo e estendendo a mão em nossa direção.

- Desculpe, querida. Quem deveria estar sendo cortês aqui éramos nós dois... e olha o que acabamos de fazer... despertamos você, sem querer...

- Não se preocupem, eu não tenho um sono tão pesado assim! – ela respondeu sorrindo. – Na verdade já estava na hora de acordar mesmo, tenho alguns assuntos para resolver por agora. Posso usar o...

- Banheiro? – eu perguntei.

- Sim... – ela respondeu.

- Pode sim. Fica depois da porta da cozinha, à sua esquerda. Mas não se preocupe em levantar, estávamos de saída. Pode ficar à vontade!

- Obrigada! – ela falou se dirigindo ao banheiro. Olhei para Dérick em tom de reprovação, ele sorriu, mas não sem antes me advertir:

- Primeiro me xinga e agora me lança uma careta. Está sendo muito atrevida! Pretendo cortar suas asinhas, mas só quando voltarmos! – ele piscou.

- Não vejo a hora, ó Senhor dos Exércitos! – eu verbalizei. Ele apontou para a porta com um olhar sério, eu segui na frente e quando caminhei senti outro forte tapa em direção à minha bundinha. Agora sim ele estava sorrindo com expressão vingativa em seus olhos.

Quase duas horas depois estávamos de volta ao apartamento. Surpreendentemente, Carlos e Samantha já estavam acordados, sentados à mesa ao lado de Suzy. O café da manhã parecia farto.

- Estão servidos? – Samantha ofereceu, levantando o copo de suco em suas mãos. Suzy olhou sorrindo, como se nos cumprimentasse novamente. Minha primeira vontade foi me sentar ao lado deles e me servir daquele delicioso lanche da manhã, mas meu estômago parecia não estar apto a aceitar que eu colocasse qualquer coisa dentro dele, não antes de saber a resposta contida no envelope embrulhado em minha mão.

- Tem algo preocupando você, Lê? – Carlos, sempre atencioso, perguntou. – Estão vindo de algum laboratório? É algo com que eu deva me preocupar? – ele finalizou apontando para o envelope de exame. Eu deveria ter escondido em algum lugar antes de entrar no apartamento. Um envelope com um emblema gigantesco do laboratório que se encontrava a poucas quadras do nosso prédio não poderia ser mais gritantemente evidente de que se tratava de um resultado de exame.

- Lê, Carlos é seu amigo. Está confortável para compartilhar isto com ele? – Dérick me perguntou expressando que eu não deveria deixá-lo preocupado.

- É um exame de gravidez! – eu respondi fazendo Carlos se engasgar com o suco que estava tomando.

- E...??? – ele perguntou curioso.

- Nada... ainda não abrimos!

- Vou entender se precisar de privacidade para isso! – Carlos falou considerando a presença das duas outras mulheres que se encontravam à mesa.

- Na verdade estou bem à vontade com todos aqui... só me incomoda este exame... – eu analisei.

- Vamos tomar café, Lê! Sente-se aqui! – Dérick falou afastando a cadeira. Sentou ao meu lado na mesa e preparou um copo com suco e um sanduíche leve para mim. – Coma. Você precisa de algo que a segure em pé! – eu concordei largando o envelope sobre meu colo e pegando o sanduíche. Todos me olhavam de forma tensa, sabendo que eu também estava.

- Crianças são as coisinhas mais fofas deste mundo! – Suzy comentou, comendo seu sanduíche, como se falasse consigo mesma, não se importando com formalidades. Ela me parecia uma pessoa bem incomum. Daquelas que não se preocupam muito com o rumo das coisas, dessas que apenas se deixam levar. Ela percebeu que eu a olhava, admirando a forma corajosa e confiante com que ela se portava. Suzy sorriu em minha direção e apontou o envelope. – Não quer abrir?

- Suzy! – Samantha olhou furiosa para a prima. Era de se esperar, pois a prima parecia bem solta, já Samantha odiava se intrometer ou falar qualquer coisa que não dizia respeito à ela mesma. Talvez fosse uma forma de não incomodar ninguém. Mas Suzy também me parecia bastante reservada, misteriosa, apesar de um tanto invasiva. Eu sorri, apreciando o “jeito moleca” dela ser. Já havia sido assim um dia... bem distante...

- Vamos saber o que diz o resultado! – eu enfrentei meus próprios medos abrindo aquele envelope. O rasgo do papel parecia ter rasgado também minha alma. “E se a criança fosse de Victor?!”, meus pensamentos me atormentavam. Parei perplexa observando a pequena palavra escrita em negrito toda em letra maiúscula bem no finalzinho do papel, em destaque.

- E então? – Dérick perguntou se controlando para não arrancar o papel de minha mão e ler ele mesmo o resultado.

- Parece que alguém vem para alterar nossa rotina! – eu falei cabisbaixa. Um misto de tensão, felicidade e tristesa.

- Meus parabéns, então?! – Suzy disse parecendo preocupada com minha expressão não muito satisfeita. – Você verá que não é um bicho de sete cabeças! – ela piscou. Dérick chegou mais perto, me abraçando.

- Lidaremos bem com isso, meu amor! – ele foi gentil, mas não conseguiu disfarçar a confusão que se passava em sua cabeça. Eu podia quase descrevê-la! “Meu... de Victor... de quem?!?”, era quase isso.

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