sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Uma Música Brutal - Oitavo Capítulo (Parte 1)

- Nossa vida foi conturbada... – ele pigarreou, parecia ser difícil falar sobre isto. – eu e Victor tínhamos um pai alcoólatra que espancava nossa mãe constantemente. Mas ela nutria um amor por ele que só vendo. Por mais que a família, minha tia e meu avô, ambos já falecidos, por mais que eles tentassem ajudar, ela não aceitava que o estava perdendo para aquele vício doentio que o fazia se transformar em um monstro às vezes. Disseram-me que quando eu nasci a situação piorou.  Sete anos mais tarde aquele desgraçado a matou! – ele falou rangendo os dentes. – Victor viu tudo, ele tinha apenas treze anos! – Dérick finalizou como se compreendesse em parte o transtorno mental que se tornara parte da vida do irmão.

- Oh, Dérick, sinto muito! – eu me encolhi contra ele, como se pudesse acolhê-lo de certa forma.

- Tudo bem, você não teve culpa! – ele me olhou dando um leve sorriso. – Mas enfim, fomos morar com meu avô e minha tia. Eles cuidavam muito bem de nós dois, mas Victor nunca esqueceu o que nosso pai fez. Quando completou dezesseis anos, ele fugiu de casa. Pouco tempo depois ficamos sabendo que meu pai havia sido assassinado, ainda não tínhamos notícias de Victor. Ele reapareceu há aproximadamente três anos atrás e me trouxe para esta cidade, a princípio para morar com ele. Conheci o clube de Enzo porque ele freqüentava, mas Victor andou aprontando e se afastou do clube. Ele havia me ensinado algumas coisas, mas meu “professor” definitivo foi Enzo!

- Céus, que história! – eu falei aflita pelo infortúnio dos dois.

- Não me olhe assim! É tudo passado agora!




- Mas você ainda precisa se libertar deste passado, Dérick! – eu argumentei. Ele havia contado a história deixando transparecer a angústia que ainda sentia no coração, ele definitivamente não estava recuperado disto.

- Você também precisa se libertar de um passado: Victor! E é nisto que quero concentrar minha atenção agora, pequena sub! – ele falou me afagando. – E sem mais para agora, descanse, quero você serena mais tarde! – eu apoiei minha cabeça em seu peito, deslizei meu braço em seu tórax e em alguns minutos eu já estava cochilando nos braços gentis de Dérick.

Um labirinto em cerca viva, muito alto, onde só podia se observar a luz do dia. Eu corria desesperada procurando achar uma saída, alguém me seguia e eu podia sentir a proximidade de sua respiração. Corri mais rápido! Meus olhos ardiam pelo contraste da obscuridade do labirinto e a intensa luz que batiam como reflexos em meus olhos, vinda do céu. “Samantha!” – a voz de Dérick ecoou. Mas quem diabos era Samantha? Ele não deveria estar me procurando? Talvez eu estivesse correndo não para fugir de algo e sim para achar Dérick. Fiz meia volta e percorri o caminho que  já havia feito, entrando por aberturas onde não havia passado... estranho. Em algumas partes o feche de luz se tornava bem mais evidente, senti-me cega com a luz cortando meus olhos como faca afiada. “Letícia!” – a voz de Victor soou bem próxima. Senti uma corda ser laçada em meus tornozelos, fazendo-me cair arruinada no chão. Ele me arrastava enquanto eu suplicava por socorro: “Dérick, me ajude!”... “Dérick, por favor, não é Samantha quem corre perigo, sou eu!”... “Dérick...”... “Dérick...”...

- Letícia! – Dérick me puxou sacolejando-me. Eu levantei subitamente, como quem voltava de um choque anafilático.

- Dérick! – eu repeti tomando uma respiração profunda como se algo tivesse me impedido de respirar por um longo período de tempo.

- Acalme-se Letícia! Foi só um pesadelo! – Dérick falou puxando-me contra seu peito. Senti-me mais confortável, principalmente por lembrar que ele estava ali comigo, e não procurando a tal da “Samantha”, como ele gritou no pesadelo.

- Oh, Dérick, foi horrível! – eu choraminguei ainda abatida.

- Não está acontecendo, querida! Você está aqui comigo agora! Nada de mal vai lhe acontecer, eu prometo! – Dérick tomava-me como quem protegia uma criança indefesa. Sua promessa de manter-me a salvo saiu em tom sério e eu pude perceber que aquele era realmente seu desejo: me proteger.

Ficamos em silêncio enquanto eu esperava minha respiração sair menos ofegante. Dérick deslizava sua mão sobre meu cabelo, acarinhando-me. Me sentia como um gatinho manhoso em seus braços e, assim como o gatinho manhoso que eu projetei na mente, eu não tinha a menor presunção de sair daquele abraço extremoso.

- Devo ter dormido muito! – eu refleti em voz alta.

- Que nada! Esteve sonolenta por pouco mais de vinte minutos! – ele falou verificando seu relógio.

- Seu relógio deve ter parado na metade do meu sono! – eu brinquei. – Disse para eu descansar... e eu acabo dormindo! Só uma tola faria o que acabei de fazer! – finalizei balançando a cabeça em reprovação.

- Na verdade você esteve exatamente onde eu queria! Foi magnífico contemplar seu rosto enquanto você dormia feito um bebê!

- Oras, pare com isso! Você também “cochilou”, tenho certeza!

- E perder a linda vista que eu tinha daqui? Jamais! – ele sorriu. Depois se endireitou, como se estivesse pensando em algo e acabou com seus olhos sobre mim. – Diga-me, bebê, o que te afligiu no sonho? – ele perguntou, desta vez com ar de preocupação.

- Nada demais! – eu falei pensando que não deveria atormentá-lo com meus problemas, ele já deve ter tido o bastante para pelo menos esta vida.

- Pode me descrever o “nada demais”? – ele insistiu educadamente. Mas porque eu tinha a certeza de que ele não aceitaria um “não” como resposta? Simples, ele era um Dom, definitivamente não estava acostumado a ouvir “não”.

- Havia um labirinto... e... acho que estavam me perseguindo, ou eu estava perseguindo alguém... – “Você, Dérick, eu estava perseguindo você!”, pensei, mas não falei – Enfim, foi apenas um pesadelo, como você disse!

- Quando estiver pronta me conte o que realmente sonhou, tudo bem? – ele falou. Olhei surpresa, ele sabia que eu havia mentido, ou melhor, contado apenas metade do pesadelo. “Sem problemas”, eu pensei. Não estava mesmo disposta a falar sobre Victor naquele momento... e o pesadelo havia sido justamente por conta dele. – Agora quero que se levante, Letícia!

- Agora? Está tão quentinho aqui! - eu choraminguei me encolhendo contra o corpo de Dérick.

- Bebê manhoso! Mas eu posso lidar com isso! – Dérick falou virando seu corpo para cima do meu e transpassando uma mão pelo emaranhado de meus cabelos. Então ele pressionou e disse: - Lê, você me pertence, querida! E nesse momento eu desejo que você fique de pé!


- Sim Senhor! – eu falei levantando-me prontamente.

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