sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Uma Música Brutal - Nono Capítulo (Parte 1)


Foram três dias de sexo intenso. Um início de paixão tórrida; e eu voltava a me sentir como uma adolescente. Um pouco boba, eu acho! Sorria por tudo e para tudo. Maldita espontaneidade quando mais se precisa disfarçar! Eu notava de longe o ar debochado de Carlos enquanto ele assistia televisão em um sofá próximo a mesa onde eu mantinha uma pilha de livros e meu caderno da faculdade e me concentrava nos estudos. Eu até que tentava não pensar naquele fim de semana agitado, mas Carlos fazia questão de me lembrar quando dava aquelas risadinhas sufocadas depois de soltar alguma piada do gênero: “O fim de semana de Letícia e Dérick”.

- Quanta infantilidade pra um homem que está perto de completar seus trinta anos! – eu o repudiei.

- Não estamos falando de nada infantil aqui! Aliás, o assunto é até proibido para menores de dezoito anos! – ele debochou. Depois de um tempo avoada perdida em meus pensamentos, Carlos protestou: - Não sou eu quem está te atrapalhando de estudar!

- Sabe, eu estava pensando em algo que Dérick me contou sobre ele e Victor... – eu falei refletindo.

- Ah é, e o que ele te contou pra deixar você tão pensativa assim?


- Uma coisa muito triste, horrível. Ele me disse que Victor viu a mãe deles sendo morta pelo próprio pai dos dois. Acho que ele tinha doze anos na época, não lembro. Mas não deve ser uma lembrança que você esqueça sem passar por algum tipo de terapia adequada! – eu analisei.

- Está tentando justificar os erros de Victor pelo passado dele? Dérick também perdeu a mãe e no entanto não se tornou tão agressivo como ele!

- Dérick não presenciou a tragédia assim como Victor fez! Mesmo assim, não estou justificando, estou dizendo que talvez a ira dele tenha algum tratamento!

- Isso você deve deixar por conta da família deles. Não se envolva nisso, Lê, ou você pode sair ferida!

- Eles não têm família... – eu murmurei meio impressionada com a história de vida dos dois. Carlos se aproximou, me deu um abraço e disse:

- Lê, se concentre na sua vida! Victor já lhe trouxe problemas demais! Tenho certeza de que Dérick vai concordar com minha opinião!

- Está certo, Carlos! – eu falei por fim. Carlos pegou o celular, a chave e caminhou para a porta.

- Não me espere para o jantar!

- Hey, seu gaiato! Aonde pensa que vai? – eu brinquei como se pudesse segurá-lo em casa.

- Estou indo encontrar a Samantha! – ele piscou.

- A Samantha? Mas ela não estava interessada no Dérick?

- Bom, acho que eu estava enganado! Ela estava interessada em qualquer um do nosso grupo. Quando Dérick saiu de campo, eu entrei em cena! É uma loira muito gostosa para ser desperdiçada assim!

- Safado!

- Ela também é! E muito oferecida por sinal! – ele falou analisando a nova “ficante”. – Mas eu não me importo, não é minha namorada mesmo! – Carlos soltou uma gargalhada.

- Afinal, o que ela está fazendo no grupo se só vai para “dar em cima” dos dançarinos? – perguntei curiosa. Sempre fomos muito seletivos quando o assunto era nosso grupo de dança, não aceitávamos qualquer um como membro. Achei estranho Carlos ter aceitado aquela garota, pois eu nunca havia visto ela dançar em nenhum treino.

- Ela é boa, acredite! – ele falou dando um sorriso cativante e fechando a porta às suas costas. Se ele falava sério ou não era uma coisa. De qualquer forma eu me esforçava a acreditar, caso contrário, teria que aceitar que o grupo estava perdendo seu foco principal.

A fim de voltar a me concentrar nos estudos eu decidi participar dos grupos de estudos que aconteciam na faculdade. Assim passaria mais tempo me socializando, pois desde os acontecimentos com Victor eu nunca mais havia saído com o pessoal da faculdade nem ao menos para revisar os estudos, e também evitava ficar sozinha viajando em meus pensamentos.

Comecei a passar praticamente o dia inteiro na faculdade. Sempre que eu saia mais cedo, Carlos vinha me buscar. Mas depois de um tempo Dérick se ofereceu para dividir este trabalho com ele. Ele dizia que era para aliviar um pouco a “barra” de Carlos, mas Carlos dizia que era só para poder passar um pouco mais de tempo comigo, já que nos víamos pouco. Eu preferia não opinar, mas achava gostoso essa “preocupação” dele comigo. Samantha começava a fazer parte da vida de Carlos de forma mais intensa, de modo que me deixava desconfortavelmente embaraçada ter que tirar os dois de seus encontros só para pedir que Carlos me levasse ou me buscasse de algum lugar, apesar dele se mostrar tão interessado em ajudar. Ela também não achava ruim e às vezes até se oferecia para ir em seu lugar, caso ele não estivesse disponível. Eu tentava voltar a dirigir, mas ainda não tinha conseguido controlar as crises de pânico que insistiam em aparecer quando eu ficava apreensiva com algo. Algumas visitas à psicóloga estavam me fazendo melhorar, mas aos poucos. Mesmo com tudo eu não dispensava o prazer da dança. Sempre estava presente nas apresentações do grupo e aquela noite não foi diferente. Tivemos uma apresentação e acabamos estendendo para uma danceteria. Viramos a noite e, como sempre acontecia quando eu excedia, no outro dia eu estava um fiasco.

O relógio marcava oito e meia da manhã. Se eu quisesse ir à aula teria que me apressar muito, pois já estava mais do que atrasada. Peguei minhas coisas com pressa e desta vez não liguei se teria ou não a tal síndrome do pânico, não incomodei Samantha e Carlos, que dormiam sossegados no quarto ao final do corredor. Desci direto até a garagem e lá peguei meu carro e sai em disparada para a faculdade.

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