domingo, 11 de dezembro de 2011

Uma Música Brutal - Décimo Quarto Capítulo


Despertei aos poucos tentando descobrir onde estava. Olhei ao redor e logo vi Samantha presa a uma poltrona. Tentei me levantar, mas percebi que também estava toda acorrentada em cima de uma espécie de maca de hospital, um pouco mais larga. Analisei o ambiente obscuro, parecia um calabouço. Havia uma escada que levava para cima, deduzi que estávamos em algum subsolo. Voltei novamente meus olhos para Samantha, ela parecia estar desmaiada, então comecei a chamá-la.

- Samantha! – eu balbuciei. – Samantha! – falei um pouco mais alto, mas ela não respondia. Então apelei e gritei. – Samantha! – ela despertou na mesma hora abrindo seus olhos arregalados. Olhava assustada para todos os cantos daquele ambiente, assim com eu fiz. Depois pousou seu olhar em mim.

- Como você está, Letícia? – ela perguntou.

- Bem, na medida do possível! – eu respondi.

- Tenho que achar uma forma de pegar meu celular!

- E como pretende fazer isso? Está toda amarrada!

- Vou pedir para usar o banheiro!


- Não sei se dará certo... – respondi cabisbaixa.

- Temos que tentar, é nossa única chance de escaparmos daqui! – ela falou, mas eu não pude responder pois logo vi uma pequena porta abrir na vertical em cima da escada, trazendo uma forte luz para o ambiente. Fechei os olhos com o choque e, antes que eu pudesse me acostumar à claridade, a porta se fechou. Espremi meus olhos e voltei a olhar novamente. Era Victor descendo as escadas.

- Vejo que as princesas já despertaram! – ele falou secamente.

- Eu preciso usar o banheiro! – Samantha reivindicou.

- Acho que não é uma boa idéia! – ele resmungou.

- Ah, qual é? Se vai nos manter presas aqui tenha um pingo de consciência! Não posso usar o chão para isso, caso contrário daqui a pouco não vamos agüentar ficar aqui dentro! – ela chantageou. Ele, depois de ficar um tempo pensativo, assentiu.

- Eu a levo! – ele falou soltando as algemas. Samantha o seguiu até o pequeno banheiro que tinha ali dentro. Ele a colocou lá dentro, fez uma ameaça e a deixou algemada com os punhos para frente.

- Não está ajudando muito! – ela falou levantando os punhos.

- Acho melhor andar logo, não vou soltar suas mãos!

- Está bem! Está bem! – ela falou entrando. Ele fechou a porta do lado de fora, mas não saiu de perto. Ela demorou algum tempo e logo percebi quando Victor ficou inquieto.

- Apresse-se! – ele ordenou.

- Já estou saindo, calma! – ela falou. Ele esperou mais algum tempo, mas achou estranho a demora e a falta de barulho dentro do recinto. Victor tentou empurrar a porta, mas viu que Samantha segurava do lado de dentro.

- Há algo errado! – ele resmungou forçando mais a porta. – Acho melhor sair por bem! – ele gritou, mas ela não abriu, então Victor esbarrou uma vez, depois outra e logo conseguiu empurrar a porta do banheiro. Samantha caiu longe, sentada no chão. O celular foi parar em outro canto e Victor talvez nem o tivesse visto se não fosse Carlos do outro lado da linha gritando:

- Samantha! O que está me dizendo?! Victor está com vocês, é isso? Aquele desgraçado seqüestrou vocês?! – Carlos gritava do outro lado da linha. Victor encarou Samantha com olhos fumegantes. Estava certamente furioso. Samantha tentou alcançar o celular, mas Victor a chutou para longe fazendo com que ela caísse machucada. Ele então pegou o celular e o desligou na mesma hora.

- Você perdeu o juízo? – ele perguntou enfurecido. – Levanta! Agora! – Samantha obedeceu. Ele a puxou pelo braço e a jogou no meio da sala. – Eu deveria matar você agora mesmo, sua cadela! Mas não quero perder tempo tentando me livrar do seu corpo, para sua sorte! Ficará amarrada dentro do banheiro até que eu resolva o que fazer com você! – ele prometeu e cumpriu. Com Samantha fora do caminho, Victor estaria livre para me atormentar da forma que quisesse. E foi exatamente o que ele fez. – Você é minha agora, Letícia! Ninguém mais pode nos separar! – ele afirmou encarando-me como um insano.

- Eu nunca vou ser mais sua, Victor! Será que não consegue entender isso? – eu falei tomando coragem, ou mesmo impulsionada pelo ódio que agora eu sentia dele. – Eu amo Dérick! Eu não te amo, nunca te amei! Você é cego ou está apenas ignorando este fato? – eu o alfinetava.

Victor pareceu ter entrado em estado de choque ao ouvir minhas palavras. Engoliu seco e ficou pensativo. Percebi seus olhos lacrimejarem e ficarem avermelhados à medida que sua vista escurecia. A expressão de seu rosto tomou uma forma tão assustadora e arrogante que me fez paralisar. Minha coragem de antes agora dava lugar a um temor que percorria cada artéria de meu corpo.

- Você não precisa me amar, basta me obedecer! – ele falou com dentes cerrados. – Eu agüentei seus mimos e caprichos durante muito tempo, agora você terá que me satisfazer, Letícia! Terá que ser MINHA mulher! Não estou te dando outra opção! Ou é minha ou não poderá ser de ninguém, fui claro?! – ele soava como um louco enfurecido. – Fui claro?! – ele falou apertando meu pescoço. Quase perdi o ar. Balancei a cabeça de forma afirmativa e só assim ele me soltou. – Ótimo! – ele falou saindo de perto.

Céus! Ele estava mais cruel e covarde do que nunca. Nunca havia visto tanta fúria em uma só pessoa. Seu primeiro toque me fez ver o quão descontrolado ele estava. Logo percebi que eu e Samantha teríamos que seguir suas regras, caso contrário nós poderíamos até sair mortas de lá. “Oh, Dérick. Me salve!”, eu mentalizei.

- Onde está Samantha?

- Onde deverá ficar pelas próximas semanas até eu decidir o que fazer com ela!

- Por favor, não a machuque! – eu pedi. Ele sorriu.

- Pretendo fazer isso com você, portanto, creio que não deva se preocupar tanto com ela quando na verdade é você quem corre perigo! – ele falou em tom provocativo.

- Não o faria!

- Obviamente que não! – ele sorriu novamente. – Mas adoro ver em seu rosto o quanto te deixo assustada!

- O que são essas coisas? – eu perguntei ao vê-lo trazer em suas mãos uma faca, um ketchup, uma câmera e um som portátil.

- Algo para brincarmos! – ele falou ligando o som e o deixando em um lugar perto, onde já se encontravam alguns outros objetos como um alicate e um objeto eletrônico que eu não pude distinguir naquele momento. Sem soltar a faca ele se aproximou. Eu encarei seus movimentos assustada. “Ele não seria louco, seria?!”, eu pensei nervosa. No som começou a tocar uma música que eu já havia ouvido antes, mas não me recordava bem. Victor se apoiou na mesinha ao lado da maca onde eu estava e começou a organizar os objetos que, supunha eu, ele usaria em breve. – Está lembrada desta música, querida?

- Sim... mais ou menos...

- Eu não esperava mesmo que se lembrasse bem dela. Você só gosta daquelas músicas tolas que você insistia em apreciar enquanto dançava com outros homens! Agora sou só eu! – ele ia me beijar, mas eu desviei. Victor me encarou possesso, mas prosseguiu. – Eu já te mostrei o clipe dessa música uma vez. Ela é tema de um filme, talvez você lembre o nome: “Encaixotando Helena”. A música é “Helena” de “Misfits”. Não é algo que você dançaria. Mas agora podemos encená-la. E olha só a surpresa que preparei: enquanto damos vida à música, eu tirarei fotos e enviarei como um presente para Dérick! Acha que ele vai gostar?

- Você só pode estar maluco?! Pretende me matar, é isso? Pretende me cortar em pedaços? – eu perguntava descrente de que ele faria, mas aterrorizada.

- Calma querida. Não farei de verdade. Bem, a não ser que ouse me desobedecer em algo. Mas não se preocupe. Como eu disse antes: só encenaremos! – ele respondeu. Eu balancei a cabeça em negação.

A música já havia tocado pela primeira vez e agora estava se repetindo. Parecia algo severamente perturbador. E era exatamente isso. Eu estava nas mãos de um maluco psicopata, exatamente como retratava a música. E no meio de toda aquela tensão, eu evitava ao máximo parecer uma mulher grávida. Eu faria, a todo custo. Manteria meu bebê protegido. Esse era meu único propósito.

Victor pegou a faca e a pressionou contra o meu rosto, fazendo uma leve linha avermelhada. Neste momento ele tirou sua primeira foto. Quando ele foi tirar a faca ela arrastou mais um pouco sobre a minha pele, fazendo outra marca que ele mesmo não esperava. Ele então a tirou rapidamente e depois verificou o quão profundo foi o pequeno corte em minha pele. Por sua precaução eu imaginei que ele não estava disposto a ir tão longe. Pelo menos por enquanto. A música me fazia acreditar que ele estava disposto a ir até o fim com aquilo. Me matar talvez, como no clipe.

- Você quer me destroçar? – perguntei aterrorizada. Ele soltou uma gargalhada fúnebre. Colocou a mão no meu rosto e disse:

- Quer dizer como no clipe desta música? – ele balançou a cabeça – Jamais! Mas não seria má idéia enviar seus pedaços em uma caixa de presente embrulhada em um lindo papel para Dérick. Pagaria para ver sua cara quando recebesse isso. Mas minha intenção é outra, vou enviar essas fotos e burlar sua morte. Assim ele nunca mais virá atrás de você e viveremos felizes para sempre, como nos contos de fadas que você adora!

- Nunca seremos felizes, Victor! Nunca! – falei enfurecida. Ele pareceu não se irritar mais com minhas provocações e acabou prosseguindo com seu plano.

Depois do deslize, Victor deixou a faca em cima da mesa. Desta vez pegou uma tesoura. Eu apenas o observava, agora um pouco segura de que ele não me faria mal maior. A braguilha do meu jeans foi aberta e eu senti que Victor cortava da abertura até a entrada para as penas. Depois cortou na parte das pernas, passo a passo. Em pouco tempo ele estava retirando minha calça por meio daqueles cortes. Depois veio para a blusa. Cortou seguindo a linha das laterais, uma a uma, e abriu até a manga. Depois na parte de cima, o mesmo procedimento até que a blusa se dividiu em dois pedaços. Retirou-a facilmente de mim. Fiquei apenas com lingerie, preta – Dércik gostava, Victor preferia vermelha.

- Aderindo ao péssimo gosto do meu irmão? Adoro destacar a pele das subs com vermelho. Até o havia ensinado. Porque diabos ele não aprendeu? – Victor se questionava. – Ganhará marcas vermelhas até que aprenda que o vermelho é a NOSSA cor preferida! – ele grunhiu. Eu estremeci, não de excitação, mas de medo. – Mas primeiro vou finalizar nosso presente para meu querido irmão! – Victor falou pegando o pote de ketchup e espalhando sobre meu corpo. – Você está muito serena! – ele observou. “Eu? Serena? É alguma brincadeira?”, eu pensei. Ele sorriu pegando em cima da mesinha uma chibata. – Quero algumas torções reais em seu rosto! – Victor falou acertando em cheio minha perna direita. Eu tentei afastar com a dor, mas estava presa. – Isso, gata! Desse jeito! – ele falou continuando com as fotos. – Seu rosto... deveria estar mais vermelho! – ele analisou. Depois disso senti um forte tapa acertar o lado direito de minha face. – Ainda não! – falou acertando outro tapa. – Agora sim! – tirou mais uma foto. Depois caminhou até a mesa e ficou analisando os objetos que estavam ali. Depois levantou com uma pequena máquina. – Eletroestimulador! – ele brindou.

- Não pode usar isso em mim! – eu gritei na mesma hora. Depois me calei pensando na besteira que fiz. Agora ele me perguntaria o porque e eu não ia poder dizer que era por conta da gravidez. Foi dito e feito. Victor encontrou meus olhos, interessado em uma possível explicação. Eu apenas balancei a cabeça.

- Estou realmente curioso, Letícia. Por qual motivo eu não deveria usar isso em você? – ele perguntou ignorando minhas súplicas e já prendendo os fios. “Letícia, você realmente deveria aprender a fechar a boca!”, eu pensei.

- Porque isso dói!

- Ora, ora, ora! Então já andou experimentando?!

Dérick havia colocado em mim uma vez, mas percebeu que eu não gostava e então não tentou novamente.

- Não... sim... um pouco... – eu tropecei nas palavras.

- Mas não é por esse motivo que não quer usar isso! – ele deduziu fazendo uma carranca enquanto coçava o canto da boca. – Eu conheço seu olhar. Se não me falar agora o verdadeiro motivo, eu vou usar isto em você sem me incomodar com nada que te aflija! – ele ameaçou. Mas eu não podia falar. Jamais poderia sonhar qual seria a reação de Victor quando descobrisse que eu estava grávida. E eu realmente preferia não descobrir.

- Eu apenas não gosto!

- Certo... então usarei! – ele concluiu terminando de anexar o resto dos fios pelo meu corpo. “Céus!”. Eu esperava profundamente que aquilo não fizesse nada de mal contra o bebê que eu carregava na barriga. Seria o inferno ter tomado a escolha errada.

Victor pegou a câmera e a faca em cima da mesa. Colocou o terminal do eletroestimulador ao lado dele e então começou. Primeiro lentamente, um choque de leve em partes estratégicas. “Maldito seja!”. Agora mais forte, eu fiz uma careta e ele tirou uma foto. Depois analisou a imagem e disse:

- Ainda não! - Victor então me olhou, como se me repreendesse. – Terá que fazer melhor ou ficaremos a tarde inteira aqui! – ele falou sério.

Em poucos minutos eu estava novamente sentindo aqueles choques, desta vez mais intensos, em meu corpo. Soltei um grito. Victor sorriu e capturou mais uma foto.

- Assim! – ele exclamou.

Logo apoiou sua faca em meu ventre, próximo ao umbigo, pressionando-a não tão leve assim. Senti como se rasgasse, mas o ketchup em volta não deixava perceber o quão profundo havia ido desta vez. Victor parou onde estava, novamente ligou o eletroestimulador, desta vez tão forte que meu corpo pulsou para cima.

- Ahhhhhhhhhhhhhhh... – eu gritei em alto e bom som. Victor tirou sua foto, colocou a câmera em cima da mesa e se voltou para mim, que lhe implorei ainda sentido o choque intenso. – Pare, por favor! Vai me matar assim!

- Só depois que você me contar o que está acontecendo! – ele falava calmamente.

- Ahhh... eu falo... – falei desconsolada.

- Ótimo! – ele falou desligando o aparelho. – Então comece! – Victor finalizou. Mas não foi preciso falar o que estava acontecendo. Com a maresia que o choque deixou quando a máquina se desligou o meu enjôo apertou tão forte que eu acabei vomitando... em cima de Victor. Ele me encarou em fúria, chegou perto e puxou bem forte meu cabelo – O que foi isso?

- É isso, Victor! – eu falava desconexamente. – É isso... – não consegui terminar a frase, pois com ele bem próximo eu pude sentir o cheiro que ele exalava e aquilo fez com que eu me sentisse mal novamente. Acabei vomitando pela segunda vez. Ele tirou a blusa e então começou a se limpar. Outro vômito veio, desta vez me deixou sufocada e Victor rapidamente me livrou das algemas que me prendiam e me colocou de pé, ao seu lado. Eu respirei aliviada.

- Obrigada!

- O caralho! Você vai me contar direitinho o que está acontecendo aqui. E saiba que só não te deixei morrer sufocada porque, dependendo do que tem pra me contar, eu mesmo farei isso! – ele bufou.

Eu não conseguia me segurar em minhas próprias pernas. Agora sim o medo havia me invadido novamente. E se ele não gostasse da idéia de gravidez? Eu estaria certamente perdida. Mas era impossível disfarçar uma vez que o próprio cheiro de Victor estava causando todos aqueles enjôos e vômitos. Ele chegou perto, me encarando. Eu me contorci tentando tampar a respiração. Ele percebeu o que havia de errado. Então ele analisou meu corpo para confirmar.

- Seus seios... estão maiores... – ele constatou. – esses vômitos... isso me parece enjôo!  - ele deduziu. Eu balancei a cabeça em negação.

- Está vendo coisas! – falei arregalando os olhos. Aquele cheiro de Victor me embrulhava o estômago e, se eu não me controlasse, logo logo estaria vomitando novamente. Então desviei o olhar. Victor segurou meu queixo, fazendo-me voltar a encará-lo. Agora ele estava ferozmente furioso. Ele então agarrou meus seios desnudos e então veio a afirmação.

- Sua vaca! – ele falou me arremessando contra o chão.

- Victor, por favor, pare! – eu pedi. Ele colocou as mãos no rosto, incompreensível e pronto para explodir e explodir quem estivesse por perto.

- Você está grávida de Dérick, sua imbecil! Como pôde deixar isso acontecer? – ele bufava.

- Calma, Victor. Eu não sei se é de Dérick! Há uma grande possibilidade de ser seu filho!

- Vadia! – ele gritou chegando perto de mim e levantando minha cabeça apenas segurando meus cabelos. Fiquei com quase metade do corpo fora do chão sendo erguido pela minha cabeça.

- Victor... pare... por favor... pode ser seu filho aqui dentro... – eu repetia tentando despertar alguma coisa humana dentro dele. Mas ele estava irredutível.

- Impossível! Eu não posso ter filhos, sua puta! Esse filho com certeza é de Dérick! – ele rosnou. Por um momento eu senti um alívio inexplicável. Se eu pudesse sair de lá naquele exato momento correria para os braços de Dérick para contar que era ele o pai do bebê que eu estava esperando, mas despertei à minha realidade quando Victor me levantou com um só puxão e me colocou de pé na frente dele. Victor me encarava, enfurecido, revoltado.

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